1
(UECE/2019) “É no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência social só pôde tornar-se entre os gregos objetos de uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem humana, procuraram defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida.” VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1989, p. 94. Com base nessa citação, é correto afirmar que a filosofia nasce:
da experiência do espanto, a maravilha com um mundo ordenado e, portanto, belo.
após o declínio das ideias mitológicas, não havendo nenhuma linha de continuidade entre estas últimas e as novas ciências gregas.
das representações religiosas míticas que se transpõem nas novas representações cosmológicas jônicas.
da experiência política grega de debate, argumentação e contra-argumentação, que põe em crise as representações míticas.
2
(ENEM MEC/2022) Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as duas ordens de fenômenos, os vínculos são demasiado estreitos para que o pensamento racional não apareça, em suas origens, solidário das estruturas sociais e mentais próprias da cidade grega. Assim recolocada na história, a filosofia despoja-se desse caráter de revelação absoluta que às vezes lhe foi atribuído, saudando, na jovem ciência dos jônios, a razão intemporal que veio encarnar-se no Tempo. A escola de Mileto não viu nascer a Razão; ela construiu uma Razão, uma primeira forma de racionalidade. Essa razão grega não é a razão experimental da ciência contemporânea. VERNANT, J. P. Origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002. Os vínculos entre os fenômenos indicados no trecho foram fortalecidos pelo surgimento de uma categoria de pensadores, a saber:
Os peripatéticos, empenhados na dinâmica do ensino.
Os poetas rapsodos, responsáveis pela narrativa do mito.
Os sofistas, comprometidos com o ensino da retórica.
Os epicuristas, envolvidos com o ideal de vida feliz.
Os estoicos, dedicados à superação dos infortúnios.
3
(UECE/2020) Antes do surgimento do pensar racional-filosófico, os povos antigos possuíam outra forma de explicação do mundo: o pensamento mítico. Considerando as características do conhecimento mítico, atente para o que se afirma a seguir e assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso. ( ) A mitologia foi a segunda forma de explicação sobre o mundo, sucedendo as explicações fornecidas pelas ciências dos antigos povos, como a agrimensura e a astrologia. ( ) Os mitos eram transmitidos por gerações, principalmente através da forma narrativa e faziam parte da tradição cultural de um povo, não sendo originários da criação por parte de um indivíduo específico. ( ) A mitologia explicava a origem do mundo e dependia da adesão, pelas pessoas, de um conjunto de verdades tidas como inquestionáveis e imunes à crítica. ( ) Baseado, principalmente, nas forças da natureza – physis –, as mitologias antigas, ao contrário das religiões que as sucederam, evitavam o recurso às forças sobrenaturais como fonte de explicação da existência. A sequência correta, de cima para baixo, é:
F, V, V, F.
F, V, F, V.
V, F, V, F.
V, F, F, V.
4
(Unioeste PR/2012) “É no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência social pôde tornar-se entre os gregos o objeto de uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem humana, procuraram defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida. Assim se destacou e se definiu um pensamento propriamente político, exterior à religião, com seu vocabulário, seus conceitos, seus princípios, suas vistas teóricas. Este pensamento marcou profundamente a mentalidade do homem antigo; caracteriza uma civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva, de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana”. Considerando a citação acima, extraída do livro As origens do pensamento grego, de Jean Pierre Vernant, e os conhecimentos da relação entre mito e filosofia, e INCORRETO afirmar que:
a política, por valorizar o debate público de argumentos que todos os cidadãos podem compreender e discutir, comunicar e transmitir, se distancia dos discursos compreensíveis apenas pelos iniciados em mistérios sagrados e contribui para a constituição do pensamento filosófico orientado pela Razão.
a discussão racional dos Sábios que traduziu a ordem humana em fórmulas acessíveis a inteligência causou o abandono do mito e, com ele, o fim da religião e a decorrente exclusividade do pensamento racional na Grécia.
ainda que o pensamento filosófico prime pela racionalidade, alguns filósofos, mesmo após o declínio do pensamento mitológico, recorreram a narrativas mitológicas para expressar suas ideias; exemplo disso é o “Mito de Er” utilizado por Platão para encerrar sua principal obra, A República.
os filósofos gregos ocupavam-se das matemáticas e delas se serviam para constituir um ideal de pensamento que deveria orientar a vida pública do homem grego.
a atividade humana grega, desde a invenção da política, encontrava seu sentido principalmente na vida pública, na qual o debate de argumentos era orientado por principios racionais, conceitos e vocabulário próprios.
5
(Unioeste PR/2015) Na antiguidade clássica, o Mito é considerado como um produto inferior ou deformado da atividade intelectual. Ao Mito se atribuiu, no máximo, a “verossimilhança” defronte da “verdade” própria dos produtos genuínos do intelecto. Este foi o ponto de vista de Platão e de Aristóteles. Platão contrapõe o Mito à verdade ou à narrativa verdadeira (Górg., 523 a), mas, ao mesmo tempo, reconhece nele a verossimilhança que, em certos campos, é a única validade a que o discurso humano possa aspirar (Tim., 29 d) e que, em outros campos, exprime o que se pode encontrar de melhor e de mais verdadeiro (Górg., 527 a). O Mito constitui também para Platão o “caminho humano e mais breve” da persuasão e, em conjunto, seu domínio é representado por aquela zona que está além do restrito círculo do pensamento racional e na qual não é lícito aventurar-se senão com suposições verossímeis. Substancialmente, Aristóteles toma a mesma atitude em relação ao Mito. (Dicionário de Filosofia Abbagnano) A Filosofia trata de problematizar o porquê das coisas de maneira universal, isto é, na sua totalidade. Busca estruturar explicações para a origem de tudo nos elementos naturais e primordiais (água, fogo, terra e ar) por meio de combinações e movimentos. Enquanto o mito está no campo do fantástico e do maravilhoso, a filosofia não admite contradição, exige lógica e coerência racional e a autoridade destes conceitos não advém do narrador como no mito, mas da razão humana, natural em todos os homens. (Filosofia Ensino Médio) Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas. (Marilena Chauí) Tomando-se por base apenas os fragmentos acima, nos quais são apresentadas considerações sobre Mito e Filosofia e suas possíveis relações, é CORRETO afirmar:
mito e filosofia não se importam com algumas contradições, contanto que o resultado final a que se propõe seja compreensível e tenha coerência.
o mito, assim como a filosofia, é verossímil, pois constitui em todos os campos o único discurso possível para construir o caminho da persuasão.
o mito e a filosofia se distinguem não por diferirem sobre a verdade, mas antes por serem narrativas distintas, que alcançam o mesmo objetivo.
o mito, assim como a filosofia, narra como eram as coisas no passado longínquo; deste modo, ambos mostram como as coisas se transformaram no que são no presente.
o mito é uma narrativa sobre a origem sustentada pela autoridade do narrador, enquanto a filosofia é a superação do mito a partir de uma explicação racional.
6
(ENEM MEC/2015) A filosofia grega parece começar absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um. NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999. O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos.
A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.
A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais.
7
(Unicentro PR/2019) Podemos caracterizar a mitologia como resultante dos primeiros esforços do ser humano no Ocidente para dar explicações para as coisas e atribuir sentido à realidade. Com base nesta compreensão, é correto afirmar:
A filosofia dos filósofos pré-socráticos construiu-se como uma radical oposição aos relatos mitológicos, rebatendo as ilusões epistemológicas e respondendo aos anseios de cientificidade da época.
Os mitos foram as primeiras formas de manifestação escrita do homem no Ocidente e, nesse sentido, podem ser considerados registros fiéis da realidade no período pré-clássico.
O período mitológico teve pouca relevância para a história da humanidade, na medida em que se baseava sempre na religião predominante e, como tal, cumpriu um papel de dominação do homem.
Mito e filosofia pré-socrática se confundem. O que os diferencia é o rigor metodológico dos primeiros filósofos.
Os mitos cumprem um papel importante na história do pensamento ocidental, dada, entre outras coisas, sua importância para o nascimento da filosofia.
8
(UPE/2018) Em relação ao pensamento mítico, leia o texto a seguir: O homem, admirado e perplexo, diante da natureza que o cerca, sem entender o dia, a noite, o frio, o calor, o sol, a chuva, os relâmpagos, os trovões, a terra fértil ou árida, sem entender a origem da vida, a morte e o seu destino eterno, a dor, o bem e o mal, recorre aos mitos. (SOUZA, Sônia Maria Ribeiro. Um outro olhar – filosofia. São Paulo: FTD, 1995, p. 39.) A narrativa mítica tem significância para a existência humana no mundo. O mito tem uma representatividade singular para transmitir e comunicar o conhecimento acerca da realidade. Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.
O pensamento mítico está desligado do desejo de dominação do mundo, e sua narrativa impõe o medo e a insegurança.
Os mitos devem ser acolhidos na sua significância como base para a compreensão do homem na sua existência e convivência.
A mitologia se traduz em relato ilógico sem fundamento emotivo e tenta explicar a realidade concreta.
Os relatos míticos são narrações fantasiosas, desvinculados de sentido da realidade.
O mito está privado de coerência, e sua narrativa prende-se à existência humana no mundo.
9
(UECE/2019) “Como se sabe, a palavra mythos raramente foi empregada por Heródoto (apenas duas vezes). Caracterizar um logos (narrativa) como mythos era para ele um meio claro de rejeitá-lo como duvidoso e inconvincente. […] Situado em algum lugar além do que é visível, um mythos não pode ser provado.” HARTOG, F. Os antigos, o passado e o presente. Brasília, Editora da UnB, 2003, p. 37. Sobre a diferença entre mythos e logos acima sugerida, é INCORRETO afirmar que:
em contraposição ao mythos, o logos era um uso argumentativo da linguagem, capaz de criar as condições do convencimento.
o problema do mythos era limitar-se ao que é visível e, por isso, não podia ser pensado.
filosofia e história nasceram, na Grécia clássica, com base numa mesma reivindicação do logos contra o mythos.
o mythos não poderia ser submetido à clarificação argumentativa e à prova — demonstração — discursiva.
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(Unioeste PR/2013) “Se compreendermos a Filosofia em um sentido amplo – como concepção da vida e do mundo -, poderemos dizer que sempre houve Filosofia. De fato, ela responde a uma exigência da própria natureza humana; o homem, imerso no mistério do real, vive a necessidade de encontrar uma razão de ser para o mundo que o cerca e para o enigma da existência. […] Mas se compreendermos a Filosofia em um sentido próprio, isto é, como o resultado de uma atividade da razão humana que se defronta com a totalidade do real, torna-se impossível pretender que a Filosofia tenha estado presente em todo e qualquer tipo de cultura. […] [Nesse caso,] a Filosofia teve seu início nas colônias da Grécia, nos séculos VI e V a.C.”. Gerd Bornheim. Considerando o texto acima e o início da Filosofia na Grécia, é INCORRETO afirmar que:
podemos atribuir à Filosofia um sentido mais geral (concepção de mundo) e um sentido mais próprio (reflexão sobre a totalidade do real).
a Filosofia no seu sentido mais próprio não foi inicialmente bem recebida em Atenas, o que é demonstrado pela condenação de Sócrates à morte.
a Filosofia enquanto pensamento racional sobre a totalidade do real surge nas colônias gregas nos séculos VI e V a.C.
a busca pelo significado da existência e do mundo não é algo exclusivo dos gregos antigos.
só há um modo do homem abordar o enigma da existência: usar o pensamento racional para investigar a totalidade do real.