Maradona 1960 - 2020

Maradona 1960 - 2020

Diego Armando Maradona Franco (Lanús, 30 de outubro de 1960 — Tigre, 25 de novembro de 2020) foi um ex-futebolista e treinador argentino que atuava como meia e atacante. Um dos maiores futebolistas de todos os tempos, liderou a conquista da Copa do Mundo de 1986, marcando, nas quartas-de-final, o Gol do Século.

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Argentinos Juniors

Aos nove anos, seu talento com a bola já o fazia ser a criança mais popular da favela em que morava, no subúrbio de Buenos Aires. Um colega havia sido aprovado em um teste para as categorias de base do Argentinos Juniors, e respondeu aos elogios do treinador dizendo que conhecia um garoto ainda melhor. O treinador, Francis Cornejo, deu-lhe então dez pesos para que pedisse a esse outro jovem para ir vê-lo. Cornejo e outros observadores do clube, incrédulos com o que viram no outro menino, foram acompanhá-lo na volta até a casa deste e, pedindo à mãe dele, conferiram sua documentação para desfazer qualquer engano plausível. Viram que Maradona realmente tinha apenas nove anos de idade.[18]

Os pais foram então convencidos a colocar Maradona no Argentinos, clube pequeno da capital, mas famoso pelo bom trabalho que desenvolvia com as categorias de base. Com quinze anos, disputava partidas preliminares, já atraindo multidões. Quando finalmente foi lançado entre os profissionais, não saiu mais. Demonstrava um repertório completo certeiro com a sua mágica perna esquerda: lançamentos, passes, dribles curtos, chutes certeiros de curta e longa distância, cobranças de falta e escanteios. Aos dezessete anos, recebeu a primeira convocação para a Seleção Argentina, da qual foi polemicamente cortado na Copa do Mundo de 1978.

1978 também significaria o ano em que foi pela primeira vez artilheiro do campeonato argentino. Em 1979, seria artilheiro tanto do campeonato argentino quanto do campeonato metropolitano, torneio que reunia os clubes da Grande Buenos Aires e que era na época considerado mais importante até do que o campeonato nacional.[19] Naquele ano, seria eleito pela primeira vez o melhor jogador sul-americano.

A dose repetiu-se em 1980: Maradona foi artilheiro dos dois campeonatos[19] e eleito outra vez o melhor jogador da América do Sul, com o adicional de ter levado o Argentinos Juniors ao vice-campeonato nacional, melhor resultado do clube até então.[19] O Boca Juniors, que não conseguia títulos argentinos desde 1976, resolveu ir atrás dele, no que era a realização de um sonho para o jogador: Maradona sempre fora um torcedor xeneize fanático. Jamais seria esquecido, todavia, na equipe que o revelou: o Argentinos renomearia seu campo para Estádio Diego Armando Maradona.
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Boca Juniors

E foi em um amistoso contra o Argentinos que Maradona fez sua estreia pelo Boca, marcando de pênalti, atuando pelos dois times. Parte da concordância do Argentinos em emprestá-lo[20] estava em uma cláusula do contrato de venda em que proibia que Diego enfrentasse a antiga equipe em jogos oficiais.[21] Dois dias depois, atraiu 65 mil pessoas à Bombonera para vê-lo marcar duas vezes em vitória por 4–1 na primeira partida oficial, contra o Talleres de Córdoba. Amistosos, todavia, seriam continuamente disputados paralelamente às disputas do metropolitano, servindo para arrecadar finanças ao clube e gerando também uma Diegomania. Em dois deles, enfrentou dois adversários que lhes seriam comuns: o Milan, em San Siro (vitória por 2–1) e Zico, contra o Flamengo, no Maracanã (derrota por 0–2).[20]

Naquele ano de 1981, com o Boca, Maradona fez grande dupla com Miguel Ángel Brindisi, com os dois marcando juntos 33 dos 60 gols que reconduziram o time ao título metropolitano - a primeira conquista do clube auriazul em cinco anos.[20] Maradona também marca em seu primeiro Boca x River, em um 3–0 listado entre as dez inesquecíveis vitórias do Boca em Superclásicos pela enciclopédia do centenário do clube;[22] ele fez o último gol, deslocando o goleiro Ubaldo Fillol e completando para as redes antes que Alberto Tarantini conseguisse bloquear seu ângulo.[20]

Contra o grande rival, marcaria em todos os clássicos disputados em 1981. O segundo deles, empatado em 1–1, foi de forma similar: tirando Fillol da jogada e marcando antes de Tarantini chegar. Os outros dois foram pelo campeonato nacional. Este foi disputado em quatro chaves de sete times onde os dois primeiros de cada uma se enfrentariam em mata-matas até a final, como Boca liderando a sua, apesar de não vencer o River – foram uma derrota por 2–3 e um empate em 2–2, neste com Maradona marcando os dois, empatando a partida no último minuto.[20]

Nas quartas-de-final, os boquenses enfrentaram o Vélez Sarsfield. Na Bombonera, em um tumultuado jogo de ida, em que os dois times terminaram a partida com nove jogadores, Maradona acabaria revidando uma das faltas que sofreu e foi suspenso pela comissão disciplinar da AFA. Seria seu último jogo oficial pelo clube do coração: o Boca acabaria eliminado pelo adversário na partida de volta.[20] Maradona ainda participaria de amistosos em excursões do clube pelas Américas e Ásia antes de ser vendido para o Barcelona por uma transferência recorde de mais de 7 milhões de dólares acertada pouco antes da Copa do Mundo de 1982.[23] Coincidência ou não, sem seu grande astro, o Boca só voltaria a ser campeão argentino onze anos depois.
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Barcelona

Maradona chegou à Catalunha como um messias. O Barça vivia carência de títulos desde o final da década de 1950. Desde 1960, só conseguira vencer o campeonato espanhol em 1974. Via o rival Real Madrid se distanciar cada vez mais no ranking de vencedores e ainda sentia o Atlético de Madrid aproximando-se, com um título a menos. O clube fez de tudo para que seu astro se sentisse à vontade, contratando vários argentinos para servirem-lhe de assessores e funcionários. A estratégia não teria bons resultados: o craque acabou por fechar-se naquele círculo de convivências e demoraria a se adaptar no estrangeiro.[23]

Na primeira temporada, ele enfrentou o primeiro problema: em dezembro de 1982, sofre de hepatite e fica de fora dos campos por três meses.[15] Os blaugranas terminam apenas em quarto; o título de 1982–83 fica com o Athletic Bilbao. Na Copa do Rei, porém, decide a final contra o Real Madrid, marcando nos dois jogos da decisão e é aplaudido de pé pela torcida do arquirrival após a vitória por 2–1 em pleno Santiago Bernabéu – na partida de ida, no Camp Nou, o Barcelona havia deixado o rival empatar após estar vencendo por 2–0.[24]

Mal inicia-se a segunda temporada e, num jogo contra o Athletic, sofre uma entrada bastante desleal do adversário Andoni Goikoetxea e fratura o tornozelo esquerdo. O astro levaria 106 dias para retomar o futebol. Quando volta, conduz os blaugranas ao caminho do título. No entanto, por um ponto, a taça fica justamente com o Athletic. Ambos os times decidem também a Copa do Rei, e um novo dia ruim contra a equipe basca (que vence por 1–0) faz Maradona surtar. Ele protagoniza uma briga generalizada entre os jogadores.[15]

Maradona, que já não tinha um relacionamento bom com a diretoria do Barcelona, é praticamente descartado por ela após receber uma suspensão de três meses em razão da confusão: a cúpula culé aceita a oferta do pequeno Napoli, da Itália. Desgostoso com o que julgou como falta de esforço do clube em defendê-lo nos tribunais, Maradona acatou a transferência,[23] encerrando um ciclo de dois anos de altos e baixos no Camp Nou.[25]

Declararia em sua autobiografia, Yo Soy Diego, que o presidente Josep Lluís Núñez teria inveja de sua popularidade e era o principal responsável direto por sua saída.[25] No livro, Maradona também apontou a coleção de fatores que o impediram de triunfar no Barcelona: desde a hepatite e lesões até gostar mais de Madrid. Ele também revelou que foi na Catalunha que começou seu relacionamento com as drogas. Aceitou a proposta do Napoli pois também estava arruinado financeiramente;[26] chegou a doar a casa que tinha em Barcelona para pagar suas dívidas.
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Napoli

Embora tradicional, a equipe napolitana era minúscula. Seus troféus resumiam-se a títulos nas divisões inferiores e a duas conquistas na Copa da Itália. Maradona foi logo amado e venerado como um rei, chegando de helicóptero a um Estádio San Paolo tomado por torcedores que ainda custavam a acreditar. Ele, curiosamente, poderia ter chegado antes ao time: o clube o havia sondado em 1979, quando ainda estava no Argentinos Juniors, mas ele recusara a proposta na época. "Para mim, Napoli era apenas uma coisa italiana, como pizza", comentou.[23]

O espanto foi geral: a equipe mais vencedora do país, a Juventus, também estaria interessada, de acordo com a imprensa. Maradona terminou por escolher o clube celeste porque "foi o único a me fazer uma proposta real e porque o Giampiero Boniperti, ex-jogador e presidente da Juventus na época, já havia dito que um jogador com meu porte físico não chegaria a lugar algum". De acordo com as lendas, o presidente do Napoli, Corrado Ferlaini, teria blefado: depositou na federação italiana um envelope vazio, onde deveria estar o contrato do jogador, a fim de registrá-lo logo. Era o que ele precisava para ganhar tempo, enquanto a manobra era descoberta, para levantar o dinheiro para pagar o Barcelona.Na primeira temporada, o clube ficou apenas em oitavo, mas somente dez pontos atrás do campeão Verona. Na segunda, a de 1985–86, conseguiu um terceiro lugar. Sua terceira temporada começou com ele já consagrado em todo o planeta, com a conquista da Copa do Mundo de 1986. Em setembro, porém, surge a primeira grande polêmica extracampo: sua ex-empregada doméstica, Cristina Sinagra, denuncia que Maradona é o pai do filho que ela teve. A paternidade é confirmada posteriormente na justiça. O filho, Diego Sinagra (também conhecido como Diego Armando Maradona Jr.), jamais seria assumido e os dois só teriam seu primeiro encontro em 2003.[15]

Ainda assim, é na temporada 1986–87 que Maradona dá ao Napoli seu primeiro título na Serie A, sobre a poderosa Juventus. A festa termina completa no clube e na vida pessoal: paralelamente, o Napoli é também campeão da Copa da Itália, e nasce sua filha Dalma (batizada com o mesmo nome da mãe de Diego).[27] Na temporada seguinte, Maradona, com quinze gols, alcança a artilharia do campeonato. O vice-artilheiro é a sua dupla ofensiva, o brasileiro Careca – que fora para a equipe justamente para poder jogar ao lado de Maradona[28] –, com treze. O bi, porém escapa por três pontos: o título fica com o Milan de Marco van Basten e Ruud Gullit, que consegue a liderança em vitória direta, em plena Nápoles, quando os dois clubes enfrentaram-se na antepenúltima rodada.[29] O clube rossonero tornar-se-ia o maior rival do Napoli pelos títulos italianos: a Juventus decaía com a aposentadoria de Michel Platini em 1987 e a Internazionale vivia certa carência. Na Copa dos Campeões da UEFA, o Napoli cai cedo: é eliminado pelo Real Madrid, primeiro adversário que enfrenta.

Na temporada 1988–89, o campeonato italiano vai surpreendentemente para a Inter de Milão, com a perseguição única do Napoli (único time na reta final com chances de tirar o título da Inter)[30] terminando em vão. O consolo fica por conta da Copa da UEFA: Maradona lidera o Napoli na campanha rumo ao primeiro título continental do clube. Nos mata-matas finais, o clube passa pela rival Juventus e pelo Bayern Munique até chegar na decisão, contra o Stuttgart. Os alemães são vencidos no embalo da dupla de Maradona com Careca: ambos marcam na vitória de virada no jogo de ida, em Nápoles, e seguram o empate na Alemanha Ocidental. Paralelamente, naquele ano ele casa-se em um estádio fechado com a namorada de infância, Claudia Vilafañe, e nasce Gianinna, sua segunda filha.[27]

Durante a temporada 1989–90, o argentino novamente destacou-se como o maior jogador do Napoli na conquista do scudetto, com dois pontos de vantagem sobre o Milan. Maradona vivia o auge da carreira. A veneração em Nápoles em torno dele era tamanha que ele sentiu-se à vontade para convocar a população local para torcer pela Argentina, e não pela Itália, na Copa do Mundo de 1990, a ser realizada em solo italiano em semanas. Gerou enorme polêmica no resto do país, notadamente no norte, região dos times mais tradicionais, ressentidos com o sucesso meteórico do Napoli, que, por sua vez, era um clube de uma região historicamente desfavorecida no país. O presidente da federação italiana chegou a ir a público pedir que os cidadãos napolitanos torcessem pela Azzurra, e pesquisas de opinião foram feitas por jornais e revistas para calcular a que ponto Maradona conseguira influenciar Nápoles.Na Copa, Maradona liderou uma Argentina esfrangalhada ao vice-campeonato, mas eliminando a Itália nas semifinais, aumentando o rancor do resto do país.[16] 1990/91 significar-lhe-ia um baque maior que a fratura em 1984 e as constantes pancadas no duro futebol italiano: novamente, o Napoli caiu cedo na Copa dos Campeões, na disputa por pênaltis contra os soviéticos do Spartak Moscou. Nada comparado ao que vem em março de 1991: seu exame antidoping após partida contra o Bari dá positivo para cocaína,[15] escancarando o vício do astro nas drogas.

Ele, ligado por provas robustas com a Camorra, a máfia napolitana,[16] foi suspenso do futebol por quinze meses. Entra em depressão e, no mês seguinte, em abril, é, sob efeito de drogas, preso em Buenos Aires pela polícia no bairro de Caballito
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Decadência

O Napoli consegue se virar na temporada 1991–92 sem seu maior ícone, terminando em quarto. Maradona, decidido a deixar o time, protagoniza uma batalha judicial que dura 86 dias. A liberação foi brecada pelo presidente do clube, que estava brigado com o argentino. Após intervenção da FIFA, Maradona consegue se desligar do Napoli e acerta um retorno à Espanha, agora como jogador do Sevilla,[15] na época comandado por Carlos Bilardo, seu ex-técnico na Seleção.[27] Anos mais tarde, Ferlaini, o antigo presidente do Napoli, declararia que Diego fora salvo diversas outras vezes do antidoping, que era burlado com a urina de jogadores "limpos" nas vezes em que o argentino era sorteado.[15]

Sua estadia no clube andaluz não dura mais que a temporada 1992–93, onde fora apenas razoável: Maradona, pesando mais do que deveria,[27] descobre que os diretores do Sevilla, com suspeitas sobre suas saídas noturnas, contrataram detetives para monitorá-lo.[15] O argentino, que também desentendera-se com Bilardo, abandona o time imediatamente e acerta outro regresso, desta vez ao país natal, contratado pelo Newell's Old Boys. Mesmo recuperando a forma,[27] duraria menos ainda na equipe de Rosário: uma sucessão de lesões musculares provoca o término de seu contrato, após apenas cinco jogos oficiais[15] e alguns amistosos, um deles, curiosamente, contra o Vasco da Gama.[31]

Deprimido, Maradona afunda cada vez mais nas drogas. Em fevereiro de 1994, irritado com o assédio da mídia, atira com uma espingarda de ar comprimido em jornalistas que faziam plantão em frente à sua casa.[15] Acima do peso e desmotivado, a impressão geral era a de que ele abandonaria a carreira antes da Copa do Mundo de 1994. Conheceu então um fisiculturista em Buenos Aires que prometeu deixá-lo em forma novamente. A promessa foi cumprida, mas um novo antidoping durante a Copa desmascaria que, por trás do milagre, estava a proibida substância efedrina, uma droga usada para emagrecer. A FIFA termina por puni-lo com outros quinze meses de banimento.[15]

Sem poder jogar, Maradona passa rápido como diretor-técnico do pequeno Textil Mandiyú. Em poucas semanas, porém, abandona o cargo do time de Corrientes. Assume como treinador do Racing, mas em março do ano seguinte desvincula-se dele também: o presidente que o havia contratado havia perdido as eleições.[15] As duas experiências foram curtas e pouco alentadoras: no Mandiyú, foram doze partidas e apenas uma vitória e, no Racing, onze jogos e apenas dois triunfos.[32] Poderia ter tido menos jogos ainda no Racing: após um 0 a 0 no clássico da cidade de Avellaneda, contra o Independiente, em que foi expulso pelo árbitro, ameaçou sair do cargo, mas foi contido pelo presidente.[33]

Com o fim da punição, ele volta ao seu amado Boca Juniors, comprado por dez milhões de dólares pelo Grupo Eurnekian, que em troca teria os direitos televisivos sobre onze partidas. O retorno, iniciado em jogo contra o Colón,[21] é estampado até em seus cabelos: Maradona descolore uma faixa do lado superior direito, simbolizando a faixa dourada do uniforme boquense.[34][35] O clube acerta também com seu amigo Claudio Caniggia, outro notório usuário de cocaína.[36] É no jogo seguinte, o primeiro oficial dele contra o Argentinos Juniors, que ele marca seu primeiro gol na volta ao Boca.[21]

O Boca não ganhava títulos argentinos havia cinco campeonatos – o último fora o Apertura de 1992. Com Maradona e Caniggia em grande parceria, o clube consegue confortável liderança no Apertura 1995. Porém, em partidas sem seu maior astro, os xeneizes perdem pontos preciosos, chegando e levar de 4–6 para o Racing em plena Bombonera - a mesma quantidade de gols que haviam tomado em todo o torneio, até então. O clube deixa o título escapar para o Vélez Sarsfield e termina apenas em quarto.[21] O mesmo clube ganha o Clausura 1996, com o Boca, comandado por Carlos Bilardo (cuja contratação ele se opusera; no mesmo ano, brigaria com o presidente boquense, Mauricio Macri),[27] ficando em quinto. A edição do torneio é mais lembrada por uma goleada de 4–1 sobre o River Plate em qua a afinada dupla Caniggia e Maradona se beija na boca, em comemoração após o terceiro gol do atacante loiro.[37][38]

No entanto, é o rival quem viverá períodos melhores: ganha o Apertura 1996 (o Boca, sem tantas presenças de Maradona, fica apenas em décimo), a Taça Libertadores da América de 1996, o Clausura 1997 (nono lugar para o Boca, que só vê Maradona jogar uma vez)[37] e o Apertura 1997. Durante este último campeonato, em que, no início, chegaria a ser novamente pego no antidoping,[39] Maradona faz sua última partida profissional, justamente em um Superclásico no Monumental de Núñez, em 25 de outubro. Joga o primeiro tempo da partida e é substituído pelo jovem Juan Román Riquelme. O Boca vence por 2–1 e conseguia a liderança com dois pontos de vantagem sobre o arquirrival, mas Maradona prefere anunciar sua retirada, após rumores de novo antidoping positivo.[27] O River conseguiria retomar a dianteira e seria campeão com um ponto de vantagem sobre o Boca.

Falando de si na terceira pessoa, Maradona resumiu seu retorno infrutífero em títulos ao Boca: "O Maradona não está feliz porque sabe que o Maradona está abaixo do padrão em que normalmente se coloca".[40] Ainda assim, houve setores da imprensa que defenderam sua convocação para a Copa do Mundo de 1998,[27] o que o faria ser um dos recordistas em participações no torneio.
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Seleção argentina

Maradona fez seu primeiro jogo pela Argentina em 1977, em amistoso contra a Hungria.[41] Integrou o grupo dos pré-convocados para a Copa do Mundo de 1978, mas, apesar do clamor popular para vê-lo no torneio, a ser disputado no país, foi deixado de fora pelo técnico César Luis Menotti, em decisão polêmica em favor de Norberto Alonso, também apreciado por público e mídia – no momento da convocação, este era o artilheiro do campeonato com o futuro campeão River Plate e fizera belo gol no último amistoso, contra o Uruguai, tendo entrado durante a partida.[42] O que mais favorecia Beto Alonso, todavia, era o fato de ele ser o preferido dos dirigentes da AFA,[43] o que incluía o general Carlos Alberto Lacoste.[42]

"Ele ainda é um garoto e precisa amadurecer. Mas sem dúvida ele pode mais que os outros e ainda vai brilhar muito no futebol", explicou Menotti sobre a decisão de cortar Maradona. Maradona ficou arrasado, mas não guardou mágoas de Menotti, considerado por ele o melhor técnico que já teve, superior até a Carlos Bilardo, o comandante em 1986.[17] Pouco após o corte, foi consolado por Omar Sívori, ex-craque de história no River Plate e na Juventus e que defendera tanto a Argentina quanto a Itália: "Me escute, garoto... você tem a verdade do futebol dentro de si e toda uma vida para mostrá-la". Apesar da decepção, Maradona chegaria a enviar um telegrama desejando sorte aos jogadores, a acompanhar dois jogos da Albiceleste no Monumental de Núñez, contra Itália e na decisão contra os Países Baixos, e a participar dos festejos pós-título pela cidade de Buenos Aires.No ano seguinte, Maradona liderou a Seleção na conquista do Campeonato Mundial de Futebol Sub-20 de 1979. Marcou seis vezes e foi eleito o melhor jogador da competição. 1979 foi também o ano em que ele marcou o primeiro gol pela seleção principal, em sua nona partida por ela. Foi em vitória por 3–1 sobre a Escócia, em Glasgow. Ele também marcou o único gol da Argentina na derrota por 1–2 para Seleção do Resto do Mundo,[41] em amistoso que ironicamente celebrava o primeiro aniversário do título argentino na Copa do Mundo de 1978.
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Copa do Mundo de 1982

A Argentina, detentora do título, realizou contra a Bélgica o jogo inaugural da Copa do Mundo de 1982. O time, no papel, era ainda melhor do que o de 1978: reunia a campeã espinha-dorsal formada por Ubaldo Fillol, Daniel Passarella, Mario Kempes, Osvaldo Ardiles, Américo Gallego e Daniel Bertoni somada com as estrelas do título de juniores de 1979, Maradona e Ramón Díaz.[43] Dieguito já era conhecido internacionalmente, ainda mais após a venda para o Barcelona, concretizada pouco antes do mundial.

A estreia de Maradona em Copas, porém, seria desagradável. Ele foi repetidamente chutado e derrubado pelos belgas, chegando a receber entradas violentas pelas costas e ser puxado de cima da bola. Porém, o árbitro tchecoslovaco Vojtech Christov não tomou nenhuma medida contra os adversários, que venceram por 1–0.[16] A Argentina recuperou-se e se classificou após vencer Hungria, em que ele marcou seus dois primeiros gols em Copas, em goleada de 4–1,[41] e El Salvador. A segunda fase seria decidida em quatro grupos com três países, com cada grupo conferindo uma vaga nas semifinais. A Argentina enfrentaria Itália e Brasil.

O primeiro jogo foi entre argentinos e italianos e novamente Maradona seria caçado em campo, com uma truculenta marcação individual de Claudio Gentile. Após levar socos, chutes e joelhadas do início ao fim, foi Maradona, e não Gentile, a receber o cartão amarelo do juiz romeno Nicolae Rainea, que entendia que o argentino reclamava energicamente sem cabimento.[16] A Itália venceu por 2–1 e praticamente obrigou a Argentina a vencer os brasileiros para haver chances reais de classificação.

Contra os rivais, Maradona finalmente veria um cartão vermelho em uma falta desleal que lhe envolvia. Porém, o autor da infração era ele, após desferir com a sola do pé um chute, pensando ser em Falcão,[43] nos testículos de Batista. Cinco minutos antes do fim do jogo,[16] perdido por 1–3, Maradona saía de campo e da Copa. Permaneceu na Espanha, para jogar pelo Barcelona. Reconheceu mais tarde que a seleção vivia um ambiente festeiro e excessivamente confiante antes do torneio.
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Copa do Mundo de 1986

Maradona foi convocado para o segundo mundial do México com algumas críticas. Alguns setores da mídia questionavam a escolha do técnico Carlos Bilardo em chamá-lo e ainda por dar-lhe a tarja de capitão.[44] Maradona ainda não havia triunfado totalmente no Napoli. Na Itália, ainda era considerado apenas um bom jogador e malabarista.[17] Mesmo assim, o respeito que despertava em Bilardo era tão grande que o treinador não usaria na competição o convocado Daniel Passarella, estrela e capitão do título da 1978, mas desafeto de Dieguito.[45]

Maradona novamente apanhou na estreia, contra a Coreia do Sul, vencida por 3–1. No jogo seguinte, marcou o gol argentino no empate em 1–1 contra a campeã Itália. A classificação veio após vitória por 2–0 sobre a Bulgária. As oitavas-de-final seriam contra os rivais do Uruguai de Enzo Francescoli. Maradona teve um gol anulado e, instigado, realizou a melhor partida de sua vida, de acordo com o próprio. A Albiceleste eliminou a Celeste por 1–0, em dia em que ele afirma ter realizado bem todas as jogadas.[17] O próximo adversário da Argentina seria a Inglaterra.

Era a primeira vez que ambos se enfrentavam após a Guerra das Malvinas e um clima bastante tenso rondava a partida, fazendo com que o próprio exército mexicano patrulhasse as arquibancadas e as redondezas do Estádio Azteca, chegando a haver tanques nas ruas. O primeiro tempo terminou sem gols. No início do segundo, após driblar marcadores, Maradona passou a bola para um companheiro, que a perdeu. Steve Hodge, zagueiro adversário, chutou alto e a bola foi em direção ao goleiro Peter Shilton. Maradona continuou a correr e, com o punho cerrado, jogou a bola por cima de Shilton, vinte centímetros mais alto, fazendo com que a bola entrasse no gol inglês, naquele gol que ficou conhecido como La Mano de Dios. A despeito dos protestos dos britânicos com o árbitro, o tunisiano Ali bin Nasser, o gol foi validado.[16] Curiosamente, não era a primeira vez que ele fazia isso: em jogo do campeonato italiano de 1984–85 contra a Udinese de Zico, marcou dessa forma e ali, também, a trapaça não fora anulada.[46]

Em espaço de alguns minutos, o argentino marcaria outro gol igualmente célebre, e que ficou conhecido como O Gol do Século. A Argentina trocava passes em seu campo de defesa quando Maradona pediu a bola. Ele estava de costas para o campo de defesa inglês quando recebeu, tendo em volta três adversários: Hodge, Peter Reid e Peter Beardsley. Quando Beardsley aproximou-se para disputar a bola, Maradona girou em sentido contrário, saindo do meio-de-campo e avançando na meta inglesa. Reid o perseguiu sem sucesso e Terry Butcher foi facilmente deixado para trás, assim como Terry Fenwick.[16]

Butcher continuou correndo atrás, tentando ainda um carrinho quando Maradona tocou para as redes no momento em que Shilton tentou bloqueá-lo. A Argentina se fechou, chegando a sofrer gol de Gary Lineker a dez minutos do fim e quase levar empate do mesmo Lineker depois, mas conseguiu manter a vitória e se classificou. Após a partida, Maradona declarou que "se houve mão na bola, foi a mão de Deus", para o delírio da torcida argentina, sentindo-se vingada.[16] O outro gol, por sua vez, seria o eleito em 2002 o mais bonito da história das Copas. Porém, este não foi o gol que Don Diego considerou o mais bonito de sua carreira, e sim um que ele fez num jogo amistoso realizado em 19 de fevereiro de 1980, na Colômbia, quando o então jovem Maradona defendia o Argentinos Juniors.[47]

Se a Guerra das Malvinas motivara os argentinos contra os ingleses, Maradona continuou especialmente motivado nas semifinais. Reencontraria a Bélgica, que tanto lhe chutara em 1982. Para aumentar a animosidade, o goleiro adversário Jean-Marie Pfaff declarou antes da partida que "Maradona não é nada de especial".[48] Apesar de novas pancadas, El Pibe perseverou e anotaria dois lindos gols no segundo tempo. No primeiro, passou por dois zagueiros e venceu Pfaff com um chute de trivela. Vinte minutos depois, na entrada da área belga, virou para um lado, avançou para o outro, fingiu que passaria a bola, gingou, deixou quatro adversários para trás e bateu novamente Pfaff. A Argentina voltava a uma final.

O jogo seria contra a Alemanha Ocidental. Maradona, desta vez, não marcou. O técnico alemão, Franz Beckenbauer, ordenara que Lothar Matthäus marcasse de perto o argentino. Ainda assim, o primeiro gol surgiu em razão dele: Matthäus cometeu uma falta em Maradona que Jorge Burruchaga cobraria para José Luis Brown abrir o marcador. Todavia, Maradona continuou dominado por Matthäus até cinco minutos do fim do jogo. Após estarem perdendo por 0–2, os germânicos haviam acabado de empatar heroicamente. Foi quando Maradona recebeu a bola e, entre dois adversários, deu belo passe para Burruchaga fazer 3–2.[16] Ao final, como capitão, ergueu a Copa que, na opinião geral, ganhara praticamente sozinho.O título lhe faria ser coroado o melhor jogador do mundo pela revista Onze d'Or, premiação que receberia novamente no ano seguinte, após o primeiro título italiano com o Napoli. A Bola de Ouro, por sua vez, ainda era restrita a jogadores europeus, o que só terminaria em 1995. O prêmio de melhor jogador do mundo pela FIFA só seria criado em 1991. Ao final da competição, dados do portal Opta Sports revelam que Maradona foi o jogador com mais assistências (5), chances criadas (27) e dribles certos (53) em toda competição.[49] Os 53 dribles certos de Maradona em 1986 são o recorde da história das Copas de um jogador no mesmo torneio desde quando os dados da Opta Sports começaram a ser coletados em 1966.
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Copa do Mundo de 1990

Quando o mundial começou, Maradona, bem diferente dos dois anteriores, era um jogador totalmente consagrado internacionalmente. Além de líder do bicampeonato mundial argentino, havia, finalmente, dado títulos importantes à até então inexpressiva equipe do Napoli. Mesmo na Copa América de 1989, a terceira que disputou e não venceu, encantara: no jogo contra os uruguaios, apenas o travessão o impediu de fazer um gol do meio-de-campo no Maracanã.[51] Declarou antes da Copa do Mundo que teriam de "arrancá-la de suas mãos". Embora seu relacionamento com o técnico Bilardo já não fosse tão boa, conseguiu impor-lhe novamente sua opinião na escalação: se em 1986 não queria que Passarella jogasse, em 1990 pressionou o treinador para chamar o amigo Claudio Caniggia.[43] Mas a relação com os italianos em geral, principalmente do norte, talvez fosse pior.[16]

Em razão de sua consagração, foi novamente caçado na estreia e a Argentina, surpreendida com o futebol talentoso mas ao mesmo tempo violento de Camarões, que teve dois jogadores expulsos, perdeu por 0–1 para os africanos.[16] Após a partida, na coletiva de imprensa, ironizou que "o único prazer desta noite foi descobrir que graças a mim os italianos de Milão deixaram de ser racistas: hoje, pela primeira vez, apoiaram os africanos",[43] em alusão à cidade onde realizara-se o jogo, a mesma onde localizava-se o Milan e a Internazionale, os maiores rivais do Napoli na época. No jogo seguinte, os campeões encararam a União Soviética, que se entusiasmou após o goleiro argentino titular, Nery Pumpido, machucar-se sozinho e sair de maca aos dez minutos.

Os soviéticos passaram a pressionar o reserva, Sergio Goycochea, e abririam o placar com uma cabeçada de Oleh Kuznetsov se a mão de Maradona não entrasse em cena novamente. A bola ia entrando nas redes quando ele apareceu e puxou-a aos seus pés com a mão direita, para mandá-la para longe, e a irregularidade novamente não foi punida pelo árbitro,[16] o sueco Erik Fredriksson. Os argentinos venceriam por 2–0 e, após empatar em 1–1 com a Romênia, passaram por pouco à segunda fase apenas como um dos melhores terceiros colocados, sistema que passara a vigorar naquele mundial.

A Argentina enfrentaria nas oitavas-de-final o Brasil, que havia conseguido três vitórias em três jogos. Com tantas pancadas na primeira fase, Maradona entrou em campo com as pernas e coxas cobertas de equimoses e com uma inchação permanente em seu tão chutado tornozelo esquerdo,[16] que mais parecia uma bola.[43] Isso obrigou-lhe a praticamente apenas caminhar em campo na maior parte de partida. Os brasileiros, melhores em campo, chegaram a acertar três vezes as traves de Goycochea quando, a oito minutos do fim, Maradona finalmente acelerou em campo com a bola nos pés. Atraiu a marcação de quatro jogadores, deixando Claudio Caniggia totalmente livre.[16] Maradona entregou a bola a ele, que só teve o trabalho de vencer Taffarel.

O heroísmo quase deu lugar à vilania contra a Iugoslávia, nas quartas-de-final. A partida terminou em 0–0 no tempo normal e na prorrogação. Nos pênaltis, Maradona cobrou mal e Tomislav Ivković defendeu. Mesmo com Pedro Troglio também desperdiçando sua cobrança, os sul-americanos avançaram após Goycochea defender os chutes de Dragoljub Brnović e Faruk Hadžibegić – Dragan Stojković já havia errado anteriormente a sua, chutando no travessão.

A semifinal prometia nova atmosfera tensa. A Argentina enfrentaria a Itália, que tanto vinha odiando Maradona. Para completar, o jogo seria em Nápoles. Uma bandeira da Argentina chegaria a ser arrancada da concentração da seleção e Maradona pediu intervenção da embaixada.[43] Mais uma vez, ele apelou a seu público napolitano que torcesse pela Argentina. E boa parte de sua audiência contumaz realmente se sentiu incapaz de torcer contra o ídolo. Os anfitriões saíram na frente e sofreram o empate no meio do segundo tempo – era o primeiro gol que a Itália tomava na Copa. Na jogada, Maradona passou a bola para Julio Olarticoechea cruzar para Caniggia desviar com a cabeça das mãos de Walter Zenga, que ainda não havia tomado gols no torneio. Novamente, os argentinos encararam os pênaltis na Copa. Desta vez, Maradona marcou o seu. Goycochea defendeu outra vez duas cobranças, de Roberto Donadoni e Aldo Serena, e a Albiceleste tirou a Azzurra do caminho. Mais do que nunca, os italianos sentiam um verdadeiro ódio contra Maradona,[16] que declarou que eliminar os anfitriões foi o seu maior feito em Copas, "por todos os significados que teve, embora tenha me custado um montão de coisas depois. (...) Você não imagina o prazer".[17]

Não foi surpresa que ele tenha sido vaiado antes e durante todo o jogo, na final, novamente contra a Alemanha Ocidental. Durante a execução do hino nacional argentino, preferiu, ao invés de cantá-lo, soltar palavrões inaudíveis ao público.[52] Ele pouco pôde fazer na partida: a Argentina estava mais enfraquecida na Copa do que nunca, desfalcada de quatro titulares, suspensos: Caniggia, Olarticoechea, Ricardo Giusti e Sergio Batista. Pedro Monzón seria ainda expulso no início do segundo tempo. Os alemães conseguiram a revanche, vencendo com um único gol, de pênalti, a cinco minutos do fim. Os argentinos não perdoariam a marcação a penalidade, duvidosa, e o árbitro mexicano Edgardo Codesal. Gustavo Dezotti, posteriormente, também seria expulso e Maradona receberia um cartão amarelo por reclamação. Ao final da partida, o estádio inteiro se alegrou quando o telão transmitiu o rosto em lágrimas do argentino, que se recusou a apertar a mão do presidente da FIFA, João Havelange, ao receber a medalha de prata.[43]

Esquecendo-se que trapaceara em 1986 e no próprio mundial de 1990, Maradona declarou: Isto foi uma trama armada pela FIFA. Fomos punidos por vencer a Itália, que era a equipe que a FIFA queria que ganhasse esta Copa do Mundo. Há uma máfia no mundo do futebol. Aquele pênalti não existiu. Foi dado de graça para que os alemães vencessem.[16] Ele escreveria em sua biografia, anos mais tarde, que um dia antes da decisão, quando os argentinos foram realizar o reconhecimento do gramado, que Julio Grondona – presidente da AFA e um dos vice-presidentes da FIFA – comentara-lhe que estava com um mau pressentimento, de que os argentinos já estariam fora do título.
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Copa do Mundo de 1994

Maradona, após a suspensão de quinze meses dada pela FIFA, ficou três anos sem jogar pela Argentina partidas oficiais.[41] Em fevereiro de 1993, voltou a vestir a camisa alviceleste para um amistoso contra o Brasil comemorativo do centenário da Associação do Futebol Argentino,[53] e contra a Dinamarca pelo Troféu Artemio Franchi, jogo oficial organizado pela CONMEBOL e a UEFA em conjunto, que reunia o campeão sul-americano e o europeu.[54][41] Nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, porém, não vinha sendo utilizado, e sem ele o país não vinha se dando bem: na última partida, chegou a ser goleado por 0 a 5 pela Colômbia em plena Buenos Aires e só não foi desclassificado porque o Paraguai não saiu de um empate com o Peru em Lima. Um clamor crescia a cada dia pelo retorno do astro,[55] finalmente chamado de volta para os dois jogos da repescagem, contra a Austrália. O primeiro gol após voltar veio em abril de 1994, em amistoso contra o Marrocos.[41]

Após recuperar milagrosamente a velha forma, Maradona começou a Copa do Mundo de 1994 dando espetáculo. Marcou de fora da área contra a Grécia e, em famosa comemoração, rugiu com os olhos esbugalhados para uma câmera. Contra a Nigéria, demonstrou fôlego incansável[16] e inspirou os argentinos a vencerem de virada. O milagre por trás da perda de treze quilos – de 89 para 76[43] – em um tempo assustadoramente curto antes do torneio foi revelado em novo antidoping, que detectou efedrina. A droga, além de ser usada para emagrecer, era também um poderoso estimulante. Para a Seleção Argentina não ser desclassificada, Maradona teve de jurar inocência[16] e a Associação do país teve de retirar seu nome do elenco.O episódio gerou bastante revolta na Argentina. Para os mais exaltados, Maradona, que recebera a solidariedade do tenor Luciano Pavarotti, declarado usuário de efedrina, estava sendo vítima de uma conspiração da FIFA. De acordo com a teoria de conspiração, a própria entidade, temerosa que a falta de grandes astros fizesse do mundial dos Estados Unidos um fiasco, havia autorizado informalmente que Maradona usasse substâncias ilícitas para voltar à forma e jogar a Copa. No entanto, suas exibições teriam extrapolado o que a FIFA queria dele, ameaçando interesses de outras seleções.[16] Fato é que Maradona, declarando ser este o episódio mais triste de sua carreira, afirmou: "me cortaram as pernas. Era meu último mundial e iríamos ser campeões".[17] A teoria foi posteriormente apoiada pelo comentarista brasileiro Silvio Lancellotti, que, em livro seu sobre a história das Copas do Mundo, comentou que "o Maradona não se dopou em 1994. Ele estava tomando remédio para emagrecer e foi sacaneado pela própria AFA. No livro, conto como a mulher do Julio Grondona odiava o Maradona. Ela falava aos berros: 'esse índio tem que se...'. Odiava por preconceito racial. Conto em detalhes".[56]

A Argentina em 1994, ao contrário das Copas anteriores, onde o talento se limitava a Maradona, reunia jogadores de renome: Claudio Caniggia se consagrara em 1990 e a seleção tinha também Gabriel Batistuta, Fernando Redondo e Ramón Medina Bello em grande forma.[55] Eles, sem a companhia de Maradona, haviam conquistado as Copas América de 1991 e 1993, torneio que Dieguito não conseguira ganhar nas três ocasiões em que participou (1979, 1987 e 1989).

Porém, os companheiros não conseguiram superar o baque com a saída de Maradona. A Argentina perdeu a última partida da primeira fase por 0–2 para a Bulgária e novamente só se classificou como uma das melhores terceiras colocadas, sistema que não seria mais utilizado a partir da Copa seguinte. Nas oitavas-de-final, veio a eliminação perante a Romênia, jogo em que ele chegou a comentar para um canal de televisão.[43] O jogo contra a Nigéria deixou Maradona, em sua quarta Copa – um recorde entre os argentinos – como o jogador que mais partidas disputou no torneio. Poderia ter sido mais – houve certa pressão para que o agora técnico Daniel Passarella o chamasse para a Copa do Mundo de 1998, mesmo com Maradona já aposentado.[27]

Posteriormente, seu recorde seria superado por Lothar Matthäus em 1998 (em sua quinta Copa, o alemão alcançou a 25ª partida) e igualado por Paolo Maldini em 2002 (a quarta e última do italiano).
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Morte

Em 3 de novembro de 2020, foi operado com sucesso de um hematoma subdural. Nove dias depois, Maradona recebeu alta e foi repousar em sua casa em Tigre, na região metropolitana de Buenos Aires. No dia 25 de novembro de 2020, enquanto estava em sua casa, Maradona sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu, aos 60 anos, por volta do meio-dia. Sua morte foi noticiada pelo jornal argentino Clarín e confirmada pouco depois, no começo da tarde.[108][109] [110] [111] O resultado preliminar da autópsia apontou que Maradona sofreu um infarto enquanto dormia. Além disso, ele teve uma insuficiência cardíaca, seguida de um edema agudo no pulmão.[112] [113]

Um dia depois da morte, seu corpo foi velado na Casa Rosada, sede do governo argentino.[114] A despeito de a Argentina ser um dos países mais afetados pela pandemia de COVID-19,[115] isso não impediu que centenas de milhares de pessoas comparecessem no local para prestarem suas últimas homenagens,[116]o que resultou em grande tumulto e confusão. Os restos mortais de Maradona foram sepultados no cemitério Jardin de Bella Vista, localizado no bairro de mesmo nome (Bella Vista), na periferia de Buenos Aires, onde também estão enterrados os corpos dos pais do jogador.
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