Questões do livro Dom Casmurro

Questões do livro Dom Casmurro

Perguntas sobre o livro

1

Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.” ASSIS. Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática,1999. p.55 (fragmento)Olá Com Dom Casmurro, obra publicada em 1899, depois de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e de Quincas Borba (1891), Machado de Assis deixa marcas indeléveis de que a Literatura Brasileira vivia um novo período literário, bem diferente do Romantismo. Nessas obras, nota-se uma forma diferente de sentir e de ver a realidade, menos idealizada, mais verdadeira e crítica: uma perspectiva realista. O trecho apresentado acima representa essa perspectiva porque o narrador

solicita à “retórica dos namorados” uma comparação que seja, ao mesmo tempo, exata e poética capaz de descrever os olhos de Capitu, revelando a dificuldade de apresentar uma verdade que não estrague a idealização romântica.
ridiculariza a retórica dos românticos ao afirmar que os olhos de Capitu pareciam com uma ressaca do mar e, por isso, não seria capaz de descrevê-los de maneira poética, traduzindo, assim, o realismo literário de sua época.
exagera nas imagens poéticas traduzidas por “fluido misterioso”, “praia”, “cabelos espalhados pelos ombros” em uma realização imagética da mulher que o tragava como fazem as ondas de um mar em ressaca.
retira-se da praia como as vagas em dias de ressaca por não ser capaz de dizer a Capitu o que está sentindo ao olhá-la nos olhos sem quebrar a dignidade mínima daquele momento em que duas pessoas apaixonam-se.
2

Leia as seguintes afirmações sobre os romances Dom Casmurro, de Machado de Assis, e Diário da queda, de Michel Laub.

Os dois narradores apresentam uma relação amorosa com esposa e filhos, reproduzindo a tradição familiar.
Os dois romances são narrados em primeira pessoa, como processo de compreensão do vivido.
O balanço final dos narradores de cada romance demonstra grande aprendizado, a partir das experiências vividas, repleto de esperança e de otimismo.
3

No trecho de Dom Casmurro destacado abaixo, qual figura de linguagem podemos encontrar? A notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo.

Ironia, pois o trecho destacado contradiz o que se afirma no início do período.
Hipérbole, uma vez que no discurso há um evidente exagero, pautado num estilo demasiadamente enfático.
Catacrese, já que a palavra coração está empregada conotativamente.
4

Considere as seguintes afirmações sobre o livro Dom Casmurro, de Machado de Assis.

O agregado da família Santiago, José Dias, desempenha funções elevadas de conselheiro e rebaixadas de mandalete. Sua acomodação nessa família dá mostras dos arranjos sociais entre homens livres e classe dominante.
O livro está estruturado em forma de diário, por isso guarda as lembranças mais íntimas de Dom Casmurro. A personagem registra que não quer ter suas memórias reveladas, pois isso macularia sua imagem ante a sociedade fluminense.
O romance de Machado de Assis, narrado em terceira pessoa, expõe o triângulo amoroso entre Bentinho, Capitu e Escobar. O narrador, que ingressa na consciência de todas as personagens, revela ao leitor a traição de Capitu e a paternidade de seu filho Ezequiel.
5

Leia o capítulo abaixo, retirado de Dom Casmurro, de Machado de Assis. CAPÍTULO VIII – É TEMPO Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho da rua em que morávamos. Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia… Agora é que eu ia começar a minha ópera. “A vida é uma ópera”, dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu… E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um capítulo. Considere as afirmações abaixo, sobre o capítulo.

O narrador diz que sua vida começou, quando ouviu José Dias denunciar seus amores com Capitu.
O narrador refere-se ao momento em que descobriu sua vocação para a vida religiosa.
6

A pergunta era imprudente, na ocasião em que eu cuidava de transferir o embarque. Equivalia a confessar que o motivo principal ou único da minha repulsa ao seminário era Capitu, e fazer crer improvável a viagem. Compreendi isto depois que falei; quis emendar-me, mas nem soube como, nem ele me deu tempo. -Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela… Estou que empalideci; pelo menos, senti correr um frio pelo corpo todo. A notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo. Há alguma exageração nisto; mas o discurso humano é assim mesmo, um composto de partes excessivas e partes diminutas, que se compensam, ajustando-se. Por outro lado, se entendermos que a audiência aqui não é das orelhas senão da memória, chegaremos à exata verdade. A minha memória ouve ainda agora as pancadas do coração naquele instante. Não esqueças que era a emoção do primeiro amor. Estive quase a perguntar a José Dias que me explicasse a alegria de Capitu, o que é que ela fazia, se vivia rindo, cantando ou pulando, mas retive-me a tempo, e depois outra ideia… Outra ideia, não, – um sentimento cruel e desconhecido, o puro ciúme, leitor das minhas entranhas. Tal foi o que me mordeu, ao repetir comigo as palavras de José Dias: «Algum peralta da vizinhança». Em verdade, nunca pensara em tal desastre. Vivia tão nela, dela e para ela, que a intervenção de um peralta era como uma noção sem realidade; nunca me acudiu que havia peraltas na vizinhança, vária idade e feitio, grandes passeadores das tardes. Agora lembrava-me que alguns olhavam para Capitu, – e tão senhor me sentia dela que era como se olhassem para mim, um simples dever de admiração e de inveja. Separados um do outro pelo espaço e pelo destino, o mal aparecia-me agora, não só possível mas certo. “Uma ponta de Iago”, Dom Casmurro, Machado de Assis Sobre o trecho acima, retirado do romance Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis, assinale a alternativa correta

O trecho é revelador da natureza extremamente ciumenta de Bentinho, pois não há nenhum indício concreto de que Capitu deixara de gostar dele.
As conclusões de Bentinho, o narrador do romance, e a fala de José Dias atestam, sem sombra de dúvidas, o quanto a personagem Capitu, leviana e fútil, não é digna de confiança.
A palavra mal, na penúltima linha do trecho, diz respeito a algum transtorno físico sentido por Bentinho devido à sua decepção com Capitu, já que provavelmente estaria apaixonada por algum peralta da vizinhança.
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