Revoltas e embates na década de 1930: As portas do Estado Novo

Revoltas e embates na década de 1930: As portas do Estado Novo

O tempo presente é marcado por um acirramento dos embates políticos. Desde o impeachment de Collor até a reeleição da ex-presidenta Dilma Roussef, desenvolveu-se uma política muito focada nos embates das casas civis e demarcada pela crença infalível nas eleições como meio de mudança da realidade, resultando num apassivamento dos embates e conflitos públicos entre as forças políticas. Em 2016, com o golpe sofrido por Dilma Roussef, a extrema direita que antes se escondia sob as os panos quentes da institucionalidade passou a agir de forma mais acirrada, disputando as ruas com sindicatos, movimentos sociais e organizações de esquerda, culminando, por exemplo, com a eleição de Bolsonaro para a presidência e um adensamento do debate político na vida cotidiana do brasileiro médio. Há, na história do Brasil, um momento cujas disputas políticas, em consonância com as tendências apresentadas em todo o mundo, se acirraram de tal forma que tornou-se possível observar, como o momento atual, forças políticas com projetos e posições claras na disputa do futuro do povo brasileiro – não por meio da via legalista ou eleitoral, mas por meio dos movimentos de massas – sendo esta a década de 1930; especialmente sua primeira metade e, mais particularmente, os anos ao entorno de 1935. Apreendendo as disputa entre a Ação Integralista do Brasil (AIB), o Partido Comunista (PCB) junto à Aliança Nacional Libertadora (ANL) e os getulistas e governista, temos um momento ímpar na história brasileira para despertar no aluno um paralelo entre passado e presente, de modo que as revoltas políticas que ocorreram nesse período são chave para compreender na atualidade como o sujeito histórico não é passivo frente a realidade em que se insere. Tratar este período histórico em suas contradições é relevante para que o estudante possa desenvolver criticamente seu pensamento histórico e político, seja por meio da comparação do presente com o período supracitado ou através da compreensão dos projetos políticos em disputa em ambos os períodos. Compreendemos que o material desenvolvido tem a capacidade de fomentar a apreensão da realidade por parte do aluno por meio do posicionamento do mesmo como personagem do passado histórico. Inspirados pelo trabalho desenvolvido pelo professor Tiago Rattes (CARVALHO, 2021), criamos, um jogo que se desenrola por meio de um questionário/quiz em que o aluno será um jornalista nos anos de 1930 e presenciará diversas situações de conflito e deverá tomar posição ou ação que seja condizente com aquelas postas pelas forças políticas mencionadas. Assim, como demonstra Costa: “através do interjogo dos participantes com a tarefa, confluem pensamento, sentimento e ação.” (BETANCOURT, 1991, apud MEDIANO, 1997, p.97, apud COSTA, 2015, p. 250). Muito embora tenhamos desenvolvido um material didático cuja aplicação primária ocorrerá por meio da realização individual do jogo, é esta confluência que permite a efetividade e aprofundamento didático da ferramenta.

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No dia 3 de outubro de 1934, na cidade de Barueri, interior de São Paulo, ocorreram dois eventos importantes, o primeiro foi uma Assembleia Geral do Sindicato dos Empregadores e Operários da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e a visita do líder nacional da AIB. Durante o trajeto dos militantes de ambos os lados, houveram diversos embates, xingamentos e chegando ao ponto de acontecer um tiroteio de mais ou menos uma hora de duração, resultando na morte de um dos integralistas. Ao fim, cada um dos grupos possuiu sua própria interpretação do ocorrido, os integralistas acusando os operários de comunistas, e os sindicalistas afirmando que no dia anterior, os integralistas haviam incitado provocações e até mesmo forjando ataques contra si mesmos. Caso estivesse presente em qual das opções se encaixaria melhor:

Ficaria indignado com o assassinato e se revoltaria com a postura dos sindicalistas.
Se colocaria contra a postura dos integralistas e estaria ao lado dos trabalhadores do sindicato.
Defenderia a repressão do conflito e o apaziguamento entre ambos os grupos.
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É dia 7 de outubro de 1934. Desde 1929, a crise econômica vem apertando a cada dia e o preço do pão anda pela hora da morte. Com a polícia coordenada por Vargas reprimindo duramente as greves e as manifestações dos antifascistas e a criação da Ação Integralista em 1932, enchendo a rua com suas camisas verdes e saudações de braço estendido, o clima político está cada vez mais tenso e a cada uma quinzena surgem no Correio da Manhã um crescente número de jovens feridos, presos, mortos ou deportados em decorrência de embates de fundo político. Você está em São Paulo, na Praça da Sé. Para hoje, tínhamos um comício integralista em homenagem aos dois anos da AIB marcado para a tarde, mas os antifascistas chamaram uma contramanifestação e desde cedo se mobilizam contra o fascismo à brasileira dos Camisas Verdes, chegando na Praça no início da tarde. A polícia acabou de revistar os prédios ao entorno da praça e, embora tentassem esconder de você esta informação, não encontraram nenhum armamento; sai então a ordem de lacrar as portas dos sindicatos e chegam 400 soldados armados de fuzis para ocupar a praça. Logo ao lado, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio (no trecho entre a Paulista e o Largo do São Francisco), se aglomeravam os integralistas vindo de todo o estado de São Paulo e a cada minuto mais e mais chegavam pela Estação do Norte. Rumavam em sentido da Praça da Sé para a realização do comício quando, sob os gritos de “morte ao integralismo” e “Fora Galinhas verdes” reagiram às provocações dos antifascistas e iniciou-se uma grande pancadaria. A polícia conseguiu conter ambos os lados com alguns disparos. Eis que, entre a manifestação antifascista e o comício, disparos acertam três guardas civis e a tensão política se transforma em confronto armado. Qual sua reação?

“Estou disposto a morrer pela minha Pátria, se for necessário, para pôr fim a esses vagabundos comunistas, que querem acabar com a família, com a propriedade e não creem em Deus!”
“Fora integralistas! Não farão no Brasil o que Hitler está fazendo na Alemanha!”
“Eu vou é embora daqui, a polícia que leve todos esses arruaceiros pra cadeia!”
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As eleições de outubro de 1935 movimentaram o cenário local do Rio Grande do Norte, principalmente após a ordem para o desengajamento de militares do Exército. Alguns soldados do 21° BC assaltaram um bonde e foram expulsos do exército, sua expulsão foi estopim para a revolta dos soldados subalternos do quartel no dia 23. Os revoltosos tomaram com facilidade o quartel, o Esquadrão de Cavalaria, os Correios e o Telégrafo, entre outras instituições, aos gritos de “Viva Prestes, viva a ANL”. Os rebeldes agiam sem a menor organização, na noite do dia 24, já dono da cidade, souberam do levante do 29° BC em Recife, acreditando que a revolução nacional libertadora ocorria em todo o país. Diante de tal situação, em qual das três posições você melhor se encaixaria:

Não estaria presente na ocasião, ou não tomaria partido.
Relutaria no início devido às orientações de superiores, mas acabaria participando diretamente do levante. Participou das ações armadas do Comitê revolucionário criado, e também da distribuição à população de mantimentos e dinheiro, tendo como bandeira de luta no momento “pão, terra e liberdade”. Mesmo compreendendo a desordem do movimento, estaria presente até o momento de sua derrocada.
De início não estaria ciente da rebelião que estaria ocorrendo, ou estaria escondendo-se com medo e aguardando o desfecho. Entretanto, sabendo do desenrolar da revolta, iria se organizar para combatê-la, e com a ajuda da oposição local e de seu aparato militar, conseguiria sufocar a revolta.
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Em novembro de 1935, estoura uma greve na estrada de ferro Great Western recebendo apoio de praças do 29° BC, a combatividade ali instaurada fez com que os comunistas locais enxergassem uma situação revolucionária, sabendo-se também que estava ocorrendo levante parecido em Natal-RN. Desencadeando assim, a rebelião em Recife no dia 24 de novembro, que não encontrou dificuldade em tomar o quartel e passaram a distribuir armas aos curiosos que foram se juntar. No mesmo dia, à tarde, os revoltosos encontraram-se encurralados pelas tropas legalistas e de reforços militares chegados no dia seguinte para combater os rebeldes através da ameaça de bombardeio aéreo, causando caos na cidade. Vivendo esta situação, você:

Não teria ligação com o movimento.
Estaria compondo a frente de batalha da rebelião, executando as estratégias criadas para a tomada do quartel.
Estaria elaborando meios para sufocar as agitações dos revoltosos, expulsando-os do Largo da Paz onde estavam concentrados.
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Nos anos de 1935 e 1936 houveram uma série de revoltas de origem político-militar contra o governo varguista no país, pregando contra as oligarquias presentes há tempos no governo brasileiro, o imperialismo e autoritarismo do governo Vargas. Liderados por Luís de Carlos Prestes, o levante comunista ocupou grandes territórios ao longo do país como Natal, Recife e Rio de Janeiro. Contudo, o grupo foi reprimido, derrotado pelas forças militares e Prestes foi preso na madrugada do dia 5 de março de 1936, não sendo possível realizar o golpe contra o presidente. Esse episódio ficou marcado durante o governo de Getúlio Vargas, tendo sido utilizado como argumento para a criminalização da ANL, o fechamento do regime e a inauguração do Estado Novo, alegando que o país estaria sob uma constante ameaça comunista que colocaria em risco a vida de seus habitantes. Levando em consideração que você é um jornalista encarregado de cobrir a decisão tomada pelo presidente, escolha umas das alternativas que mais se adequam a matéria que você, jornalista, pensaria em escrever na época:

Embora não concorde com as decisões que o governo tenha tomado, acredito ainda sim que a melhor opção é a endurecer o regime para a segurança nacional.
De fato, um ato contra o governo de Getúlio era necessário devido as constantes repressões e silenciamentos. O governo caminhava para um estado ditatorial.
Devido ao histórico positivo do governo varguista, eu confio na decisão do presidente, mesmo que inconstitucional, em prol de um bem maior para toda a nação.
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Com a prisão de Prestes, no dia 5 de março de 1936, o governo Vargas assumiu publicamente a caça aos comunistas através da polícia política, que se encontrava chefiada por Filinto Müller. No entanto, não fora somente prestes que havia sido preso naquele dia. O Departamento de Ordem Política e Social prendera, simultaneamente, a militante comunista alemã Olga Benário, que era companheira de Prestes e estava escondida na mesma casa que o dirigente brasileiro. Diferentemente do processo de Prestes, que ainda correu por muitos anos, o governo Vargas rapidamente resolveu-se pela extradição de Olga, que estava grávida, e a entrega da prisioneira à polícia política da Alemanha nazista, a Gestapo, sabendo que, por ser judia, seria enviada diretamente a um campo de concentração. O dia é 26 de maio de 1936 e lê-se no jornal O Globo, o resultado do processo iniciado na metade do mesmo mês e anunciado no mesmo jornal em 19 de maio de 1936. Você lê a notícia e pensa:

Não havia necessidade de tê-la processado, se o governo fosse firme na sua posição, já teria a extraditado há mais tempo! Além de comunista, é alemã, então que os alemães lidem com os seus problemas e nós lidamos com os nossos.
Um absurdo! E ainda por cima está grávida! Todos sabem que ela será torturada nos campos de concentração. Esse Getúlio não é mais que um fascista brasileiro, tão podre quanto os integralistas!
Este é um homem de visão! Getúlio não apenas resolveu o problema da intentona como seguiu todos os mecanismos legais, é com alegria que o Brasil cresce livre de perigos.
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Após o golpe de estado efetivado por Getúlio Vargas em novembro de 1937, com o decreto do estado de guerra e o fechamento do Congresso Nacional, o presidente criou o chamado Departamento de Imprensa e Propaganda com a intenção de ampliar e aperfeiçoar o trabalho que estava sendo feito no Departamento Nacional de Propaganda. O órgão tinha como objetivo principal centralizar toda, e qualquer, propaganda sobre o governo servindo como um instrumento para difundir os ideais do Estado Novo para as classes populares, possuindo diversos setores como Turismo, Cinema e Teatro, Propaganda, entre outros, no qual era responsável por grande parte das propagandas do período. Esse órgão foi um dos grandes marcos do governo de Vargas, sendo um dos principais vetores para que a famosa alcunha de "pai dos pobres" tenha sido popularizada na época devido as constantes propagandas realizadas sobre os feitos do presidente. Pensando na sua profissão como jornalista, você foi encarregado de emitir uma nota expressando seu ponto de vista acerca deste órgão criado que irá interferir diretamente no seu trabalho, com isso, escolha uma das alternativas que mais se adequa à sua filosofia:

Embora seja uma medida um pouco radical, concordo com a criação do órgão pois assim um golpe comunista poderá ser evitado com a difusão das informações corretas.
Não acho que a criação desse órgão seja algo positivo visto que irá limitar muito a minha liberdade de expressão sobre o governo.
Concordo com a criação do órgão, irá ajudar a filtrar as notícias que são realmente relevantes sem falar que irá combater a difusão de propagandas contra o governo.
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Em 10 de maio de 1938, foi posto em prática um plano de assassinato de Getúlio Vargas e a tomada do poder, seus alvos principais eram Palácio Guanabara, Polícia Civil, Polícia Especial, Quartel general do Exército e Polícia Militar. Eram um plano de enormes dimensões, mas que por muitos fatores organizativos não foi totalmente posto em prática. Ainda assim, a tropa de milicianos consegue invadir o Palácio Guanabara, sendo impedidos apenas por não terem cortado a linha telefônica presidencial, o que possibilitou à Getúlio pedir reforços. O líder da organização revoltosa encontrava-se em São Paulo acompanhando de longe, mas buscando desvencilhar-se do movimento, ainda que fosse pouco provável de se conseguir. O episódio de 1938 ocorreu com desordem e falta de preparo, destruindo qualquer tipo de pretensão de ascensão do grupo revoltoso. Diante disso, escolha a alternativa que mais lhe contemplaria na dada situação:

Estaria por dentro de toda elaboração e implementação do plano, sendo um dos revoltosos vestidos com disfarce de fuzileiro naval a entrarem estrategicamente no Palácio Guanabara.
Não possuiria nenhum tipo de vínculo com os envolvidos na tentativa de assassinato do presidente. A solução para a Ditadura do Estado Novo, deve ser o povo tomando o poder.
Estaria em combate direto com os milicianos revoltosos, sufocando os objetivos de seus planos.
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