[RPG] Caipira na Cidade Grande (parte 1/?)
Você é Rosa, uma mocinha de 17 anos adorável que leva uma vida simples no campo com o pai, desde que a mãe foi embora, quando você tinha apenas quatro anos. Mas um terrível infortúnio faz com que você tenha que ir viver com sua mãe no coração de uma das maiores metrópoles do mundo, longe de casa, dos amigos, num lugar estranho com gente mais estranha ainda. Como você vai se virar na cidade grande? Será que você vai acabar se encontrando na sua nova casa?
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Você acorda de manhã e se espreguiça, tentando afastar o sono que ainda insistia em te perturbar. Os raios de sol invadiam seu quarto, passando por entre as frestas da janela. Você vai para a cozinha, ainda de pijama, pronta pra tomar um café da manhã fresquinho, mas é atraída pela luz da manhã e sai no quintal antes de aquecer o fogão. Você prende os cabelos compridos num rabo de cavalo, enquanto admira os morros verdes na paisagem, por onde pastavam alguns bovinos e ouve o cantar dos pássaros. Você se vira e volta pra dentro de casa, depois de dar uma olhada para seu humilde lar. Como é a sua casa?
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Você passa o café e coloca a comida no forno a lenha, que criava um cheiro gostoso no ambiente. — Eita, esse cheiro ta bão demais da conta! - você olha para a direção da voz e sorri para o pai que saía do quarto, com os cabelos desgrenhados, mas a roupa prontinha para trabalhar. Vocês são humildes, vivem numa pequena casinha e não têm muitas posses. Seu pai trabalha na fazenda mais próxima, com trabalhos braçais. — Bãm dia, meu pai. — Bão dia, Rosa - ele se sentou e pegou café - ocê vai pra fazenda lá hoje? Você também trabalhava na fazenda. Ajudava com a limpeza da casa do patrão, três vezes por semana, até o horário de ir pra escola. — Vô não, pai. Eu vô só semana que vem agora - diz, sentando-se e pegando um pouco de café com leite. Como era o seu café da manhã?
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Depois de acabar de comer, papai puxa o assunto — Sua mãe mando' outra carta, fia' — Ah não... Eu suspirei, irritada. Vinha acontecendo nos últimos três anos. Mamãe começara a mandar cartas ou alguns telefonemas, provavelmente pra suprir a ausência esses anos todos. Eu tinha quatro anos quando ela foi embora. Achava que a vida simples do campo não era pra ela e foi embora tentar ganhar a vida na cidade. Depois de um tempo, ela começou a enviar um bom dinheiro mensalmente, pra que pudéssemos nos cuidar bem e sem dificuldade, mas ela nunca veio me procurar e quase nunca falou comigo quando eu era criança. Com o tempo perdemos o contato e nossa relação se resumiu a dinheiro. Até estranhei quando recebi uma carta escrita a mão por ela. Ela queria falar comigo mais vezes pra correr atrás do tempo perdido comigo e que se arrependia todos os dias de ter me deixado. Não me comovi. Nada justifica sua ausência. Desde então eu não li mais nenhuma. Mas papai reprovava minha atitude. — Rosa... Você podia dar uma chance pra ela. Ela quer seu bem. Talvez queira te ver — Se ela quisesse tanto me vê já teria vindo aqui, num é? Ele percebe que sua opinião não vai mudar e se levanta pra sair. Você se despede carinhosamente do seu pai e decide se arrumar um pouco e trocar de roupa. Qual é a sua aparência?
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Estava organizando a louça do café da manhã quando ouvi palmas no portão. Olhei pela janela pra ver quem era. Era uma senhora baixinha e descabelada, que parecia esbaforida e cansada, gritando meu nome. — Dona Maria? - larguei tudo na pia pra acudir a senhora - D-dona, Maria, ta tudo bem com a senhora? — Vem rápido pra fazenda, minha fia, parece que teu pai tá passando mal lá, menina! Vamos logo! O que você faz?
— Como assim passando mal? - sem hesitar saio correndo desesperada em direção a fazenda
— Mas é grave? - questiono a senhora e vou até a cozinha deixar o pano de prato e o avental, pra ir andando até a fazenda junto com a senhora
— C-calma, Dona Maria, vem cá, toma uma água e a gente vai lá. O que aconteceu?
— Ele do nada estribuchou no chão quando tava enchendo no estoque de lenha do fogão
Percebo que a situação era muito mais grave do que eu pensei. Começo a entrar em pânico.
— Oia, a senhora fica aqui tomando um ar e eu vô correr lá na fazenda pra acudir o papai
— Vai lá, minha fia - disse a senhora, mas eu já tinha corrido pra longe quando ela falou.
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Quando cheguei na fazenda, o dono me guiou até o sofá até onde eles carregaram meu pai, que tinha desmaiado quando carregava um punhado de lenha para o estoque. O senhor proprietário da fazenda disse: — Já chamei um médico, Rosa, eles estão a caminho... Ele está consciente, mas ainda tá muito mal Alguns funcionários observavam apreensivos, enquanto eu me aproximava do meu pai, passando minha mão carinhosamente em seu rosto. — pai? — Ro...Rosa... M-minha flor - sua voz era rouca. Eu não entendia o que tinha acontecido... Até agora a pouco estava tudo bem e agora ele estava doente? Como assim? Ele passou a mão nos meus cabelos suavemente e sorriu pra mim — Eu te amo, minha flor... — Para, pai... - eu não podia deixar ele se despedir de mim. Ainda não era a hora de ele partir - você está de despedindo... Vai ficar tudo bem! — Você se parece tanto com ela... - ele não disse quem, mas eu sabia que ele estava falando da mamãe. Sua voz era fraca e pouco a pouco seus olhos foram perdendo o brilho da vida e se tornaram opacos. — Pai? PAI? Logo em seguida uma equipe de paramédicos chega correndo e me empurra pra longe dele, tentando realizar os procedimentos de primeiros socorros. Dois minutos depois um deles se volta pra mim e faz uma sutil negação com a cabeça. Papai havia falecido. Como você reage?
—Não... NÃO! - abraço o corpo no sofá aos prantos. Meu amado pai, que cuidou de mim a vida toda... milhares de lembranças passavam na minha cabeça. Eu chorava alto como uma criança... Nem sequer havia te respondido.
— Num me deixe, papai... Eu te amo...
Continuo no chão, parada e em choque, sem conseguir absorver a informação. Mas assim que alguém vem falar comigo eu começo a chorar por horas, que é quando eu finalmente percebo o que aconteceu.
Eu simplesmente não tinha conseguido digerir e pra mim aquilo era só um pesadelo. Saí da casa e gritei, em busca de algum consolo do universo. Corri desembestada pelos verdes pastos, sem conseguir conter as lágrimas de dor e sofrimento. Agora eu era sozinha no mundo
Encaro tudo com calma e racionalidade na frente dos outros, resolvendo toda a papelada do atestado de óbito, do velório e etc. Só tomo meu tempo quando chego em casa e a ficha cai que eu estou sozinha. Então me debulho em lágrimas.
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Alguns dias após a morte do papai, que teve um infarto, uma moça bateu na minha porta, alegando ser da assistência social e que devido a minha menoridade, teria que me levar até um responsável mais próximo ou eu seria encaminhada para um orfanato. Os donos da fazenda até se disponibilizaram para me manter durante esses 10 meses que faltavam pra eu completar dezoito anos, mas o processo judicial seria longo e provavelmente caro. Já estava quase desistindo e acompanhando a moça até o orfanato, quando me dei conta da carta da mamãe, que ainda estava em cima da mesa de centro da sala. Então eu abri a carta
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"Querida Rosalya, Não sei quando você irá ler esta carta ou as outras que mandei. Seu pai me respondeu, dizendo que você não queria contato. Eu me arrependo das minhas atitudes e eu espero que um dia você possa me perdoar. Se você um dia quiser me visitar... Ou passar as férias ou feriado com a mamãe... Ou talvez morar aqui se for fazer faculdade na cidade, saiba que será bem vinda na minha casa. Tenho um quarto que fiz especialmente pra você. Tentarei falar com você por horas e ainda não seria suficiente pra substituir o tempo perdido e a saudade que eu sinto. Se soubesse que ia perder meu maior tesouro quando fui atrás de riquezas, nunca teria saído de casa. Eu te amo. Com amor, mamãe." No canto inferior da carta, havia uma informação preciosa: o telefone dela. Eu já sabia o que ia fazer. Disquei o número no telefone de casa e esperei. — Alô? - uma voz feminina me respondeu. O que você diz a seguir?
Faço um silêncio longo a princípio, mas depois começo:
— Mãe... Aqui é a Rosalya
— Ai, meu Deus, filha?
— Me chama só de Rosa... Sobre o que ocê disse de eu morar com ocê... Ainda tá de pé?
— Oi, Marcela - me recusei a chama-la de mãe - é a Rosa aqui
— Minha filha!
— ocê não tem o direito de achar que é minha mãe... Mas o pai morreu e agora, judicialmente a senhora tem a obrigação de cuidar de eu.
— Mamãe, sou eu - ia me fazer de durona, mas sentia falta dela... Contei tudo que tinha acontecido e ela na hora me chamou pra morar com ela.
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Sua mãe fica ansiosa com sua mudança e organizar todas as coisas como casa e escola pra você se mudar. Chega o fatídico dia e ela aparece na sua casa pra te buscar. Você olha pela janela do seu quarto e vê o lindíssimo carro branco - e bem sujo de terra - parado na rua. Você pega sua pequena mala em cima da cama e olha uma última vez pro seu quarto. — Vô sentir saudade de casa... Como era o quarto?
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Parei em frente ao carro e minha mãe abriu o porta malas para eu colocar as malas. Ela saiu rapidamente do carro e veio entusiasmada na minha direção, mas se conteve quando se aproximou demais. Ela colocou a mão na frente da boca e fez uma cara de emocionada — Você já tá tão crescida, Rosalya...
Desviei o olhar e não correspondi muito a princípio
— Pode me chamá só de Rosa... Num gosto muito de Rosalya não...
Ela concordou e sorriu pra mim, que retribuí timidamente. Eu não queria forçar contato ou convivência ainda... Era muito pra digerir e eu não tenho certeza se perdoei. Preciso de tempo, mas estava disposta a dar uma chance
— É Rosa! - não deixo ela se aproximar muito mais - brigada por vir
Abro a porta do carro antes de pedir licença e entro. Não quero contato. Ela não é minha mãe de verdade.
— Mãe! - abraço e ela retribui chorando - eu devia ter ligado antes...
Ela me abraçou e me consolou por uns minutos e depois fomos pro carro.
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— Você nunca saiu do campo, né? — Não... — Bom, na cidade as coisas são bem diferentes, mas não se preocupe! Vou tentar te ajudar pra você se situar logo. E você começa as aulas segunda feira, num excelente colégio. Eu tinha esquecido que escola existia desde que o papai morreu... Não estava ansiosa pra uma nova vida acadêmica... Mas eu tinha hoje, que era sexta feira, e todo o final de semana pra me preparar. — Vamos ter uma rotina difícil, afinal eu trabalho demais, mas em casa tem bastante estrutura e também temos uma empregada e um motorista, que vão ajudar bastante. Eu olhei pra ela assustada. Não sabia que era tão bem de vida... Ela sempre mandou bastante dinheiro, mas não sabia que era por isso. — Torço pra que se adapte logo. Olhei pra minha mãe novamente. Ela era realmente bonita como o papai dizia... Como ela era?
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