Quiz de Literatura, Cap 8

Quiz de Literatura, Cap 8

Quiz de Literatura, Cap 8

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Mwrilo

1

(UNICAMP) […] eu sou um pobre relojoeiro que, cansado de ver que os relógios deste mundo não marcam a mesma hora, descri do ofício. […] Um exemplo. O Partido Liberal, segundo li, estava encasacado e pronto para sair, com o relógio na mão, porque a hora pingava. Faltava-lhe só o chapéu, que seria o chapéu Dantas, ou o chapéu Saraiva (ambos da chapelaria Aristocrata); era só pô-lo na cabeça, e sair. Nisto passa o carro do paço com outra pessoa, e ele descobre que ou o seu relógio está adiantado, ou o de Sua Alteza é que se atrasara. Quem os porá de acordo? Com relação ao excerto da crônica de Machado de Assis, publicada em 05 de abril de 1888 na Gazeta de Notícias, é correto afirmar que a metáfora mecânica faz referência à passagem do tempo, aludindo à expectativa de mudança de

mentalidade escravagista, com um pacto político para suspensão de costumes imperiais.
século, marcada pela perspectiva da chegada do meteorito de Bendegó na corte imperial.
legislação, com a alternância entre partidos para a formação de um novo ministério do governo imperial.
regime a partir de discordâncias políticas que levaram à eleição do governo imperial.
2

(FCMSCSP – Adaptada) Leia a crônica Caso de secretária, de Carlos Drummond de Andrade. Foi trombudo para o escritório. Era dia de seu aniversário, e a esposa nem sequer o abraçara, não fizera a mínima alusão à data. As crianças também tinham se esquecido. Então era assim que a família o tratava? Ele que vivia para os seus, que se arrebentava de trabalhar, não merecer um beijo, uma palavra ao menos! Mas, no escritório, havia flores à sua espera, sobre a mesa. Havia o sorriso e o abraço da secretária, que poderia muito bem ter ignorado o aniversário, e, entretanto, o lembrara. Era mais do que uma auxiliar, atenta, experimentada e eficiente, pé de boi da firma, como até então a considerara; era um coração amigo. Passada a surpresa, sentiu-se ainda mais borocoxô: o carinho da secretária não curava, abria mais a ferida. Pois então uma estranha se lembrava dele com tais requintes, e a mulher e os filhos, nada? Baixou a cabeça, ficou rodando o lápis entre os dedos, sem gosto para viver. Durante o dia, a secretária redobrou de atenções. Parecia querer consolá-lo, como se medisse toda a sua solidão moral, o seu abandono. Sorria, tinha palavras amáveis, e o ditado da correspondência foi entremeado de suaves brincadeiras da parte dela. — O senhor vai comemorar em casa ou numa boate? Engasgado, confessou-lhe que em parte nenhuma. Fazer anos é uma droga, ninguém gostava dele neste mundo, iria rodar por aí à noite, solitário, como o lobo da estepe. — Se o senhor quisesse, podíamos jantar juntos — insinuou ela, discretamente. E não é que podiam mesmo? Em vez de passar uma noite besta, ressentida – o pessoal lá em casa pouco está me ligando –, teria horas amenas, em companhia de uma mulher que – reparava agora – era bem bonita. Daí por diante o trabalho foi nervoso, nunca mais que se fechava o escritório. Teve vontade de mandar todos embora, para que todos comemorassem o seu aniversário, ele principalmente. Conteve-se, no prazer ansioso da espera. — Aonde você prefere ir? — perguntou, ao saírem. — Se não se importa, vamos passar primeiro em meu apartamento. Preciso trocar de roupa. Ótimo, pensou ele; faz-se a inspeção prévia do terreno, e quem sabe? — Mas antes quero um drinque, para animar — ela retificou. Foram ao drinque, ele recuperou não só a alegria de viver e fazer anos como começou a fazê-los pelo avesso, remoçando. Saiu bem mais jovem do bar, e pegou-lhe do braço. No apartamento, ela apontou-lhe o banheiro e disse-lhe que o usasse sem cerimônia. Dentro de quinze minutos ele poderia entrar no quarto, não precisava bater – e o sorriso dela, dizendo isto, era uma promessa de felicidade. Ele nem percebeu ao certo se estava se arrumando ou se desarrumando, de tal modo os quinze minutos se atropelaram, querendo virar quinze segundos, no calor escaldante do banheiro e da situação. Liberto da roupa incômoda, abriu a porta do quarto. Lá dentro, sua mulher e seus filhos, em coro com a secretária, esperavam-no atacando “Parabéns pra você”. As características do gênero crônica presentes nesse texto são:

narrativa curta e abordagem de um fato cotidiano.
linguagem formal e vinculação ao jornalismo.
humor e acontecimentos impossíveis na realidade.
linguagem coloquial e diversidade de personagens.
caráter narrativo e exposição da opinião do cronista.
3

(ENEM) Estojo escolar Rio de Janeiro – Noite dessas, ciscando num desses canais a cabo, vi uns caras oferecendo maravilhas eletrônicas, bastava telefonar e eu receberia um notebook capaz de me ajudar a fabricar um navio, uma estação espacial. […] Como pretendo viajar esses dias, habilitei-me a comprar aquilo que os caras anunciavam como o top do top em matéria de computador portátil. No sábado, recebi um embrulho complicado que necessitava de um manual de instruções para ser aberto. [...] De repente, como vem acontecendo nos últimos tempos, houve um corte na memória e vi diante de mim o meu primeiro estojo escolar. Tinha 5 anos e ia para o jardim de infância. Era uma caixinha comprida, envernizada, com uma tampa que corria nas bordas do corpo principal. Dentro, arrumados em divisões, havia lápis coloridos, um apontador, uma lapiseira cromada, uma régua de 20 cm e uma borracha para apagar meus erros. [...] Da caixinha vinha um cheiro gostoso, cheiro que nunca esqueci e que me tonteava de prazer. [...] O notebook que agora abro é negro e, em matéria de cheiro, é abominável. Cheira vilmente a telefone celular, a cabine de avião, a aparelho de ultrassonografia onde outro dia uma moça veio ver como sou por dentro. Acho que piorei de estojo e de vida. No texto, há marcas da função da linguagem que nele predomina. Essas marcas são responsáveis por colocar em foco o(a)

contexto, fazendo das informações presentes no texto seu aspecto essencial.
código, transformando a linguagem utilizada no texto na própria temática abordada.
mensagem, elevando-a à categoria de objeto estético do mundo das artes.
enunciador, buscando expressar sua atitude em relação ao conteúdo do enunciado.
interlocutor, considerando-o responsável pelo direcionamento dado à narrativa pelo enunciador.
4

(UFRGS) Leia os segmentos abaixo do ensaio A nova narrativa, de Antonio Candido, sobre a ficção brasileira a partir da década de 1960. O esforço do escritor atual é inverso. Ele deseja apagar as distâncias sociais, identificando-se com a matéria popular. Por isso usa a primeira pessoa como recurso para confundir autor e personagem, adotando uma espécie de discurso direto permanente e desconvencionalizado, que permite fusão maior que a do indireto livre. Esta abdicação estilística é um traço da maior importância na atual ficção brasileira. […] Este ânimo de experimentar e renovar talvez enfraqueça a ambição criadora, porque se concentra no pequeno fazer de cada texto. Daí o abandono dos grandes projetos de antanho. [...] O ímpeto narrativo se atomiza e a unidade ideal acaba sendo o conto, a crônica, o sketch, que permitem manter a tensão difícil da violência, do insólito ou da visão fulgurante. Considere as seguintes afirmações. I. O autor procura justificar a tendência crescente de romances brasileiros narrados em primeira pessoa, que se verifica até hoje. II. Os “grandes projetos” podem ser exemplificados em obras como o Ciclo da cana-de-açúcar, de José Lins do Rego, como os Romances da Bahia, de Jorge Amado, como O tempo e o vento, de Erico Verissimo. III. O autor procura justificar a emergência de narrativas curtas no Brasil, como o conto e a crônica. Quais estão corretas?

I, II e III.
Apenas I e II.
Apenas II e III.
Apenas III.
Apenas I.
5

A varíola Oswaldo Cruz achava que era vergonhoso uma pessoa apresentar marcas de bexigas. Pensando como ele, o Congresso tornou obrigatória a vacina. E muita gente se descontentou. Estávamos ou não estávamos em uma terra de liberdade? Tínhamos ou não tínhamos o direito de adoecer e transmitir nossas doenças aos outros? A 14 de novembro de 1904 houve um motim: sublevou-se a Escola Militar, o general Travassos morreu, Lauro Sodré, senador, e Alfredo Varela, deputado, foram presos. Assim, além das vítimas que ordinariamente causa, a varíola produziu essas. Graciliano Ramos, um dos maiores nomes da literatura brasileira, escreveu sobre a realidade nacional sem perder o estilo literário que tanto marcou sua obra. O texto em tela deve ser considerado

um editorial, por expressar reflexivamente o ponto de vista desse escritor renomado.
uma reportagem, por comprovar realisticamente fatos com datas e nomes não ficcionais.
uma resenha, por abordar especificamente a desavença de 14 de novembro de 1904.
um conto, por narrar ficcionalmente um acontecimento com personagens, tempo e lugar.
uma crônica, por tratar criticamente de um fato histórico da época.
6

Ed Mort só vai Mort. Ed Mort. Detetive particular. Está na plaqueta. Tenho um escritório numa galeria de Copacabana entre um fliperama e uma loja de carimbos. Dá só para o essencial, um telefone mudo e um cinzeiro. Mas insisto numa mesa e numa cadeira. Apesar do protesto das baratas. Elas não vencerão. Comprei um jogo de máscaras. No meu trabalho o disfarce é essencial. Para escapar dos credores. Outro dia entrei na sala e vi a cara do King Kong andando pelo chão. As baratas estavam roubando as máscaras. Espisoteei meia dúzia. As outras atacaram a mesa. Consegui salvar a minha Bic e o jornal. O jornal era novo, tinha só uma semana. Mas elas levaram a agenda. Saí ganhando. A agenda estava em branco. Meu último caso fora com a funcionária do Erótica, a primeira ótica da cidade com balconista topless. Acabara mal. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta. Nessa crônica, o efeito de humor é basicamente construído por uma

seleção lexical na qual predominam informações redundantes.
estrutura composicional caracterizada pelo arranjo singular dos períodos.
ordenação dos constituintes oracionais na qual se destaca o núcleo verbal.
segmentação de enunciados baseada na descrição dos hábitos da personagem.
sequenciação narrativa na qual se articulam eventos absurdos.
7

Menino de cidade — Papai, você deixa eu ter um cachorro no meu sítio? — Deixo. — E um porquinho-da-índia? E ariranha? E macaco e quatro cabritos? E duzentos e vinte pombas? E um boi? E vaca? E rinoceronte? — Rinoceronte não pode. — Tá bem, mas cavalo pode, não pode? O sítio é apenas um terreno no estado do Rio sem maiores perspectivas imediatas. Mas o garoto precisa acreditar no sítio como outras pessoas precisam acreditar no céu. O céu dele é exatamente o da festa folclórica, a bicharada toda e ele, que nasceu no Rio e vive nesta cidade sem animais. Nessa crônica, a repetição de estruturas sintáticas, além de fazer o texto progredir, ainda contribui para a construção de seu sentido,

demarcando o diálogo desenvolvido entre o pai e o menino criado na cidade.
pondo em foco os animais como temática central da história narrada nessa prosa ficcional.
indicando a falta de ânimo do pai, sem maiores perspectivas futuras em relação ao terreno.
opondo a cidade sem animais a um sítio habitado por várias espécies diferentes.
revelando a ansiedade do menino em relação aos bichos que poderia ter em seu sítio.
8

De mavioso encanto Eu vi um beija-flor. De manhã reuni a família ao redor da mesa do café e disse: Gente, vou contar uma coisa importante e vocês precisam acreditar em mim. Hoje, enquanto vocês dormiam, vi um beija-flor no terraço. Foi assim. Era de madrugada e acordei chamada pela sede. Mas o dia me pareceu tão novo que parei de olhar. E de repente, lá estava ele tecendo entre as flores a rede de seus voos. Um beija-flor de verdade em 1972, um beija-flor vivo numa cidade de 6 milhões de habitantes. Ficaram pasmos. Mas me amavam e acreditaram em mim. Minha filha pediu que o descrevesse, pediu que o desenhasse e que o pintasse com todas as cores dos seus lápis. Meu marido comoveu-se, eu era uma mulher que tinha visto um beija-flor, e era dele. Beijou-me na testa. As domésticas foram convocadas para participar da alegria, mas, pessoas de pouca fé, se entreolharam descrentes. As amigas às quais telefonamos me deram parabéns; afinal, eram amigas. A novidade habitou minha casa. A notícia correu. Verdade, Marina, que você viu um beija-flor? E eu modesta mas banhada de graça, verdade. Ligaram do jornal. Alô, Marina, a que horas? Que cor? De que tamanho? E você tem certeza? Alguém mais viu? Olha gente, não quero fazer declarações. Sei que parece estranho, mas eu vi. A hora não sei bem, nem o tamanho, não medi. Sei que era um beija-flor feito os de antigamente, com asas, bico, tudo. Um beija-flor de penas. Fotos? Não tenho, não falei com ele. Vieram ver o terraço, mediram tudo, controlaram os ventos, aspiraram as flores. E chegaram à conclusão de que não, não era possível, nenhum beija-flor havia estado ali. COLASANTI, Marina. Crônicas para jovens. 1. ed. São Paulo: Global, 2012. p. 23-24. O texto faz parte da obra Crônicas para jovens, de Marina Colasanti. Analise as proposições sobre o gênero textual crônica, e assinale (V) para verdadeira e (F) para a falsa. ( ) Pertence somente ao jornalismo opinativo e tem sempre como motivo as notícias do cotidiano ou mesmo um tema muito comentado ou polêmico nos jornais. ( ) Caracteriza-se pela sucessividade dos episódios e a simultaneidade de conflitos. ( ) É a representação de um fato com o objetivo de sensibilizar o espectador e provocar a emoção, o riso e a piedade. ( ) É o relato de fatos do cotidiano, pois está diretamente ligada ao radical grego crono, que significa tempo. ( ) Consiste em uma atividade literária em prosa e tem, entre outros, o objetivo de entretenimento do leitor. Registra os fatos em uma linguagem despretensiosa, que se aproxima da vida cotidiana.

F – F – V – V – F
V – F – F – F – V
V – F – V – V – F
V – F – F – V – V
F – F – F – V – V
9

Motivos para pânico Como sabemos, existem muitas frases comumente repetidas a cujo uso nos acostumamos tanto que nem observamos nelas patentes absurdos ou disparates. Das mais escutadas nos noticiários, nos últimos dias, têm sido “não há razão para pânico” e “não há motivo para pânico”, ambas aludindo à famosa gripe suína de que tanto se fala. Todo mundo as ouve e creio que a maioria concorda sem pensar e sem notar que se trata de assertivas tão asnáticas quanto, por exemplo, a antiga exigência de que o postulante a certos benefícios públicos estivesse “vivo e sadio”, como se um defunto pudesse estar sadio. Ou a que apareceu num comercial da Petrobrás em homenagem aos seus trabalhadores, que não sei se ainda está sendo veiculado. Nele, os trabalhadores “encaram de frente” grandes desafios, como se alguém pudesse encarar alguma coisa senão de frente mesmo, a não ser que o cruel destino lhe haja posto a cara no traseiro. Em rigor, as frases não se equivalem e é necessário examiná-las separadamente, se desejar enxergar as inanidades que formulam. No primeiro caso, pois o pânico é uma reação irracional, comete-se uma contradição em termos mais que óbvia. Ninguém pode ter ou deixar de ter razão para pânico, porque não é possível haver razão em algo que por definição requer ausência de razão. Então, ao repetir solenemente que não há razão para pânico, os noticiários e notas de esclarecimento (e nós também) estão dizendo uma novidade semelhante a “água é um líquido” ou “a comida vai para o estômago”. Se as palavras pudessem protestar, certamente Pânico escreveria para as redações, perguntando ofendidíssimo desde quando ele precisa de razão. Nunca há uma razão para o pânico. A segunda frase nega uma verdade evidente. É também mais do que claro que não existe pânico sem motivo, ou seja, o freguês entra em pânico porque algo o motivou, independentemente de sua vontade, a entrar na desagradabilíssima sensação de pânico. “Ninguém, que eu saiba, olha assim para a mulher e diz “mulher, acho que vou entrar em pânico hoje à tarde” e, quando a mulher pergunta por que, diz que é para quebrar a monotonia.” (UNESP) Como é característico da crônica jornalística, João Ubaldo Ribeiro focaliza assuntos do cotidiano com muito bom humor, mesclando a seu discurso palavras e expressões coloquiais. Um exemplo é asnáticas, que aparece em “assertivas tão asnáticas quanto”, e outro, o substantivo freguês, empregado em “o freguês entra em pânico”. Caso o objetivo do autor nessas passagens deixasse de ser jocoso e se tornasse mais formal, as palavras adequadas para substituir, respectivamente, asnáticas e freguês seriam:

Intrigantes, sujeito.
Disparatadas, indivíduo.
Estranhas, cara.
Estúpidas, panaca.
Asininas, bestalhão.
10

Motivos para pânico Como sabemos, existem muitas frases comumente repetidas a cujo uso nos acostumamos tanto que nem observamos nelas patentes absurdos ou disparates. Das mais escutadas nos noticiários, nos últimos dias, têm sido “não há razão para pânico” e “não há motivo para pânico”, ambas aludindo à famosa gripe suína de que tanto se fala. Todo mundo as ouve e creio que a maioria concorda sem pensar e sem notar que se trata de assertivas tão asnáticas quanto, por exemplo, a antiga exigência de que o postulante a certos benefícios públicos estivesse “vivo e sadio”, como se um defunto pudesse estar sadio. Ou a que apareceu num comercial da Petrobrás em homenagem aos seus trabalhadores, que não sei se ainda está sendo veiculado. Nele, os trabalhadores “encaram de frente” grandes desafios, como se alguém pudesse encarar alguma coisa senão de frente mesmo, a não ser que o cruel destino lhe haja posto a cara no traseiro. Em rigor, as frases não se equivalem e é necessário examiná-las separadamente, se desejar enxergar as inanidades que formulam. No primeiro caso, pois o pânico é uma reação irracional, comete-se uma contradição em termos mais que óbvia. Ninguém pode ter ou deixar de ter razão para pânico, porque não é possível haver razão em algo que por definição requer ausência de razão. Então, ao repetir solenemente que não há razão para pânico, os noticiários e notas de esclarecimento (e nós também) estão dizendo uma novidade semelhante a “água é um líquido” ou “a comida vai para o estômago”. Se as palavras pudessem protestar, certamente Pânico escreveria para as redações, perguntando ofendidíssimo desde quando ele precisa de razão. Nunca há uma razão para o pânico. A segunda frase nega uma verdade evidente. É também mais do que claro que não existe pânico sem motivo, ou seja, o freguês entra em pânico porque algo o motivou, independentemente de sua vontade, a entrar na desagradabilíssima sensação de pânico. “Ninguém, que eu saiba, olha assim para a mulher e diz “mulher, acho que vou entrar em pânico hoje à tarde” e, quando a mulher pergunta por que, diz que é para quebrar a monotonia.” João Ubaldo Ribeiro. Motivos para pânico. O Estado de S. Paulo, 17 nov. 2009. (UNESP) “Então, ao repetir solenemente que não há razão para pânico, os noticiários e notas de esclarecimento (e nós também) estão dizendo uma novidade semelhante a ‘água é um líquido‘ ou ‘a comida vai para o estômago‘.“ Neste período, no tom bem humorado que o autor imprime à crônica, a palavra novidade assume um sentido contrário ao que apresenta normalmente. Essa alteração de sentido, em função de um contexto habilmente construído pelo cronista, caracteriza o recurso estilístico denominado:

Ironia.
Hipérbole.
Reticência.
Eufemismo.
Antítese.
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