1
Censura moralista Há tempos que a leitura está em pauta. E, diz-se, em crise. Comenta-se esta crise, por exemplo, apontando a precariedade das práticas de leitura, lamentando a falta de familiaridade dos jovens com livros, reclamando da falta de bibliotecas em tantos municípios, do preço dos livros em livrarias, num nunca acabar de problemas e de carências. Mas, de um tempo para cá, pesquisas acadêmicas vêm dizendo que talvez não seja exatamente assim, que brasileiros leem, sim, só que leem livros que as pesquisas tradicionais não levam em conta. E, também de um tempo para cá, políticas educacionais têm tomado a peito investir em livros e em leitura. Os falantes, nos textos que produzem, sejam orais ou escritos, posicionam-se frente a assuntos que geram consenso ou despertam polêmica. No texto, a autora
rebate a ideia de que as políticas educacionais são eficazes no combate à crise de leitura.
critica pesquisas tradicionais que atribuem a falta de leitura à precariedade de bibliotecas.
ressalta a importância de os professores incentivarem os jovens às práticas de leitura.
atribui a crise da leitura à falta de incentivos e ao desinteresse dos jovens por livros de qualidade.
questiona a existência de uma crise de leitura com base nos dados de pesquisas acadêmicas.
2
Antiode Poesia, não será esse o sentido em que ainda te escrevo: flor! (Te escrevo: flor! Não uma flor, nem aquela flor-Virtude – em disfarçados urinóis). Flor é a palavra flor; verso inscrito no verso, como as manhãs no tempo. Flor é o salto da ave para o voo: o saltofora do sono quando seu tecido se rompe; é uma explosão posta a funcionar, como uma máquina, uma jarra de flores. A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de
uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.
uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
3
Essas moças tinham o vezo de afirmar o contrário do que desejavam. Notei a singularidade quando principiaram a elogiar o meu paletó cor de macaco. Examinavam-no sérias, achavam o pano e os aviamentos de qualidade superior, o feitio admirável. Envaideci-me: nunca havia reparado em tais vantagens. Mas os gabas se prolongaram, trouxeram-me desconfiança. Percebi afinal que elas zombavam e não me susceptibilizei. Longe disso: achei curiosa aquela maneira de falar pelo avesso, diferente das grosserias a que me habituara. Em geral me diziam com franqueza que a roupa não me assentava no corpo, sobrava nos sovacos. Por meio de recursos linguísticos, os textos mobilizam estratégias para introduzir e retomar ideias, promovendo a progressão do tema. No fragmento transcrito, um novo aspecto do tema é introduzido pela expressão
"os gabos".
"Longe disso".
"a singularidade".
"Em geral".
"tais vantagens".
4
Apenas uma das alternativas está correta.
supremacia das ideias cibernéticas.
banalização do comércio eletrônico.
ampliação da blogosfera.
criação de memes.
comercialização de pontos de vista.
5
Chiquito tinha quase trinta quando conheceu Mariana num baile de casamento na Forquilha, onde moravam uns parentes dele. Por lá foi ficando, remanchando. Fez mal à moça, como costumavam dizer, tiveram de casar às pressas. Morou uns tempos com o sogro, descombinaram. Foi só conta de colher o milho e vender. Mudou para casa do velho Chico Lourenço [seu pai]. Fumaça própria só viu subir um par de anos depois, quando o pai repartiu as terras. De tão parecidos, pai e filho nunca combinaram direito. Cada qual mais topetudo, muitas vezes dona Aparecida ouvia o marido reclamar da natureza forte do filho. Ela escutava com paciência e respondia dum jeito sempre igual: — "Quem herda, não rouba." Vinha um brilho nos olhos, o velho se acalmava. ROMANO, O. Casos de Minas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. Os ditados populares são frases de sabedoria criadas pelo povo, utilizadas em várias situações da vida. Nesse texto, a personagem emprega um ditado popular com a intenção de
legitimar o direito do filho à herança.
condenar a agressividade do marido contra o filho.
conter o ânimo violento de Chico Lourenço.
criticar a natureza forte do filho.
justificar o gênio difícil de Chiquito.