Questões do ENEM - Lingua Portuguesa (2020) (Parte 1)
Questões do ENEM 2020, sobre Língua Portuguesa e interpretação de texto (linguagens, códigos e suas tecnologias). Use para estudar, boa sorte! (Separei as questões de português 2020 em quatro questionários, por isso essa é a parte 1).
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Vou-me embora p’ra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias, como o de L’invitation au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito em minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me embora p’ra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto, como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo de aparências”, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada. Os processos de interação comunicativa preveem a presença ativa de múltiplos elementos da comunicação, entre os quais se destacam as funções da linguagem. Nesse fragmento, a função da linguagem predominante é a
poética, porque o texto aborda os elementos estéticos de um dos poemas mais conhecidos de Bandeira.
referencial, porque o texto informa sobre a origem do nome empregado em um famoso poema de Bandeira.
apelativa, porque o poeta tenta convencer os leitores sobre sua dificuldade de compor um poema.
emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos de angústia que o levaram à criação poética.
metalinguística, porque o poeta tece comentários sobre a gênese e o processo de escrita de um de seus poemas.
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A frase, título do filme, reproduz uma variedade linguística recorrente na fala de muitos brasileiros. Essa estrutura caracteriza-se pelo(a)
apagamento de uma preposição.
organização interrogativa da frase.
utilização de um verbo de ação.
imprecisão do referente de pessoa.
uso de uma marcação temporal.
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Slam do Corpo é um encontro pensado para surdos e ouvintes, existente desde 2014, em São Paulo. Uma iniciativa pioneira do grupo Corposinalizante, criado em 2008. (Antes de seguirmos, vale a explicação: o termo slam vem do inglês e significa — numa nova acepção para o verbo geralmente utilizado para dizer “bater com força” — a “poesia falada nos ritmos das palavras e da cidade”). Nos saraus, o primeiro objetivo foi o de botar os poemas em Libras na roda, colocar os surdos para circular e entender esse encontro entre a poesia e a língua de sinais, compreender o encontro dessas duas línguas. Poemas de autoria própria, três minutos, um microfone. Sem figurino, nem adereços, nem acompanhamento musical. O que vale é modular a voz e o corpo, um trabalho artesanal de tornar a palavra “visível”, numa arena cujo objetivo maior é o de emocionar a plateia, tirar o público da passividade, seja pelo humor, horror, caos, doçura e outras tantas sensações. Na prática artística mencionada no texto, o corpo assume papel de destaque ao articular diferentes linguagens com o intuito de
traduzir expressões verbais para a língua de sinais.
imprimir ritmo e visibilidade à expressão poética.
redefinir o espaço de circulação da poesia urbana.
estimular produções autorais de usuários de Libras.
proporcionar performances estéticas de pessoas surdas.
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É possível afirmar que muitas expressões idiomáticas transmitidas pela cultura regional possuem autores anônimos, no entanto, algumas delas surgiram em consequência de contextos históricos bem curiosos. “Aquele é um cabra da peste” é um bom exemplo dessas construções. Para compreender essa expressão tão repetida no Nordeste brasileiro, faz-se necessário voltar o olhar para o século 16. “Cabra” remete à forma com que os navegadores portugueses chamavam os índios. Já “peste” estaria ligada à questão da superação e resistência, ou mesmo uma associação com o diabo. Assim, com o passar dos anos, passou-se a utilizar tal expressão para denominar qualquer indivíduo que se mostre corajoso, ou mesmo insolente, já que a expressão pode ter caráter positivo ou negativo. Aliás, quem já não ficou de “nhe-nhe-nhém” por aí? O termo, que normalmente tem significado de conversa interminável, monótona ou resmungo, tem origem no tupi-guarani e “nhém” significa “falar”.
registros do inventário do português brasileiro.
justificativas da variedade linguística do país.
influências da fala do nordestino no uso da língua.
explorações do falar de um grupo social específico.
representações da mudança linguística do português.
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O ouro do século 21 Cério, gadolínio, lutécio, promécio e érbio; sumário, térbio e disprósio; hólmio, túlio e itérbio. Essa lista de nomes esquisitos e pouco conhecidos pode parecer a escalação de um time de futebol, que ainda teria no banco de reservas lantânio, neodímio, praseodímio, európio, escândio e ítrio. Mas esses 17 metais, chamados de terras-raras, fazem parte da vida de quase todos os humanos do planeta. Chamados por muitos de “ouro do século 21”, “elementos do futuro” ou “vitaminas da indústria”, eles estão nos materiais usados na fabricação de lâmpadas, telas de computadores, tablets e celulares, motores de carros elétricos, baterias e até turbinas eólicas. Apesar de tantas aplicações, o Brasil, dono da segunda maior reserva do mundo desses metais, parou de extraí-los e usá-los em 2002. Agora, volta a pensar em retomar sua exploração.
marcar a apropriação de termos de outra ciência pela reportagem.
esclarecer termos científicos empregados na reportagem.
incorporar citações de especialistas à reportagem.
imprimir um tom irônico à reportagem.
atribuir maior valor aos metais, objeto da reportagem.
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Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda agitando-se para sufocá-la. Aumentavam as sombras. No céu, nuvens colossais e túmidas rolavam para o abismo do horizonte... Na várzea, ao clarão indeciso do crepúsculo, os seres tomavam ares de monstros... As montanhas, subindo ameaçadoras da terra, perfilavam-se tenebrosas... Os caminhos, espreguiçando-se sobre os campos, animavam-se quais serpentes infinitas... As árvores soltas choravam ao vento, como carpideiras fantásticas da natureza morta... Os aflitivos pássaros noturnos gemiam agouros com pios fúnebres. Maria quis fugir, mas os membros cansados não acudiam aos ímpetos do medo e deixavam-na prostrada em uma angústia desesperada. No trecho, o narrador mobiliza recursos de linguagem que geram uma expressividade centrada na percepção da
prevalência do mundo natural em relação à fragilidade humana.
depreciação do sentido da vida diante da consciência da morte iminente.
relação entre a natureza opressiva e o desejo de libertação da personagem.
confluência entre o estado emocional da personagem e a configuração da paisagem.
instabilidade psicológica da personagem face à realidade hostil
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TEXTO I É pau, é pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol É peroba-do-campo, é o nó da madeira Caingá, candeia, é o matita-pereira TEXTO II A inspiração súbita e certeira do compositor serve ainda de exemplo do lema antigo: nada vem do nada. Para ninguém, nem mesmo para Tom Jobim. Duas fontes são razoavelmente conhecidas. A primeira é o poema O caçador de esmeraldas, do mestre parnasiano Olavo Bilac: “Foi em março, ao findar da chuva, quase à entrada/ do outono, quando a terra em sede requeimada/ bebera longamente as águas da estação [...]”. E a outra é um ponto de macumba, gravado com sucesso por J. B. Carvalho, do Conjunto Tupi: “É pau, é pedra, é seixo miúdo, roda a baiana por cima de tudo”. Combinar Olavo Bilac e macumba já seria bom; mas o que se vê em Águas de março vai muito além: tudo se transforma numa outra coisa e numa outra música, que recompõem o mundo para nós. Ao situar a composição no panorama cultural brasileiro, o Texto II destaca o(a)
singularidade com que o compositor converte referências eruditas em populares.
diálogo que a letra da canção estabelece com diferentes tradições da cultura nacional.
resgate que a letra da canção promove de obras pouco conhecidas pelo público no país.
relativização que a letra da canção promove na concepção tradicional de originalidade.
caráter inovador com que o compositor concebe o processo de criação artística.
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Deu vontade de jogar, mas não sabe como reunir os amigos... Muitas vezes é difícil encontrar grupos para bater uma bola. Em função disso, estão sendo disponibilizados aplicativos que reúnem times e reservam espaços para os adeptos da paixão nacional. Num exemplo dessas iniciativas, é possível organizar uma partida de futebol, se inscrever para participar de um jogo, alugar campos e quadras, convidar jogadores. O aplicativo tem dois tipos de usuários: um que o usa como ferramenta de gestão do grupo, convidando amigos para jogar, vendo quem confirmou e avaliando os jogos. Outro usuário é o que busca partidas perto de onde ele está, caso de pessoas que estão de passagem numa cidade. A inter-relação entre tecnologia e sociedade tem estimulado a criação de aplicativos. Nesse texto, isso é percebido pelo desenvolvimento de aplicativos para
identificação da escassez de espaços para a vivência dos esportes.
agendamento de viagens para eventos de esporte amador
formação de grupos em comunidades virtuais para a prática esportiva.
organização de eventos de competições esportivas.
mapeamento dos interesses dos praticantes acerca dos esportes.
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TEXTO II O grupo Jovens Artistas Britânicos (YABs), que surgiu no final da década de 1980, possui obras diversificadas que incluem fotografias, instalações, pinturas e carcaças desmembradas. O trabalho desses artistas chamou a atenção no final do período da recessão, por utilizar materiais incomuns, como esterco de elefantes, sangue e legumes, o que expressava os detritos da vida e uma atmosfera de niilismo, temperada por um humor mordaz. A provocação desse grupo gera um debate em torno da obra de arte pelo(a)
influência desse grupo junto aos estilos pós-modernos que surgiram nos anos 1990.
interesse em produtos indesejáveis que revela uma consciência sustentável no mercado.
economia e problemas financeiros gerados pela recessão que tiveram grande impacto no mercado.
recusa a crenças, convicções, valores morais, estéticos e políticos na história moderna.
frutífero arsenal de materiais e formas que se relacionam com os objetos construídos.
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O suor para estar em competições nacionais e internacionais de alto nível é o mesmo para homens e mulheres, mas não raramente as remunerações são menores para elas. Se no tênis, um dos esportes mais equânimes em termos de gênero, todos os principais torneios oferecem prêmios idênticos nas disputas femininas e masculinas, no futebol a desigualdade atinge seu ápice. Neymar e Marta são dois expoentes dessa paixão nacional. Ela já foi eleita cinco vezes a melhor jogadora do mundo pela Fifa. Ele conquistou o terceiro lugar na última votação para melhor do mundo. Mas é na conta bancária que a diferença entre os dois se sobressai. O esporte é uma manifestação cultural na qual se estabelecem relações sociais. Considerando o texto, o futebol é uma modalidade que
se caracteriza por uma identidade masculina no Brasil, conferindo maior remuneração aos jogadores.
apresenta proximidades com o tênis, no que tange às relações de gênero entre homens e mulheres.
traz remunerações, aos jogadores e jogadoras, proporcionais aos seus esforços no treinamento esportivo.
possui jogadores e jogadoras com a mesma visibilidade, apesar de haver expoentes femininas de destaque, como Marta.
resulta em melhor eficiência para as mulheres e, consequentemente, em remuneração mais alta às jogadoras.
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Fomos falar com o tal encarregado, depois com um engenheiro, depois com um supervisor que mandou chamar um engenheiro da nossa companhia. Esses homens são da sua companhia, engenheiro, ele falou, estão pedindo a conta. A companhia está empenhada nessa ponte, gente, falou o engenheiro, vocês não podem sair assim sem mais nem menos. Tinha uma serra circular cortando uns caibros ali perto, então só dava pra falar quando a serra parava, e aquilo foi dando nos nervos. Falei que a gente tinha o direito de sair quando a gente quisesse, e pronto. Nisso encostou um sujeito de paletó mas sem gravata, o engenheiro continuou falando e a serra cortando. Quando ele parou de falar, 50 Volts aproveitou uma parada da serra e falou que a gente não era bicho pra trabalhar daquele jeito; daí o supervisor falou que, se era falta de mulher, eles davam um jeito. O engenheiro falou que tinha mais de vinte companhias trabalhando na ponte, a maioria com prejuízo, porque era mais uma questão de honra, a gente tinha de acabar a ponte, a nossa companhia nunca ia esquecer nosso trabalho ali naquela ponte, um orgulho nacional. As reivindicações dos operários, quanto às condições aviltantes de trabalho a que são submetidos, recebem algumas tentativas de neutralização dos representantes do empregador, das quais a mais forte é o(a)
intimidação pela discreta presença de um agente de segurança na cena.
solicitação em nome dos prejuízos e compromissos para entrega da obra.
sequência de atribuição de responsabilidades e de poder decisório a terceiros.
promessa de imediato atendimento da carência sexual dos operários.
apelo pela identificação com a empresa extensiva ao amor patriótico.